A certeza de se estar sozinho no mundo, de ser solitário em seus próprios sentimentos, é constantemente difundida pelos psicólogos na ânsia de dar um conforto aos pacientes – “Está se sentindo só? Não se preocupe, é assim mesmo.” A constatação está lá no último livro do Irvim Yallow que eu li, “Carrascos do Amor”.
Concordo com a afirmação. Por mais que se tente expressar em palavras o que nossas emoções estão nos dizendo internamente, é impossível fazê-lo com fidelidade total. É como um amigo me disse ontem, numa conversa temperada com uma boa taça de vinho: “Às vezes, o silêncio fala muito mais do que diversas palavras.” Acredito que é por isso que ando tão reticente em hablar.
Estou com a sensação de que as pessoas neste mundo estão tão preocupadas com o seu próprio umbigo, com seus próprios problemas, com as suas próprias necessidades, com os seus próprios pensamentos e sentimentos que o ato de tentar compartilhar o que se passa comigo parece tolo e em vão. Aliás, seguindo esse mesmo raciocínio, essa teoria de que somos, no fundo, um bando de sozinhos co-habitando o mesmo planeta parece simplesmente redundante.
Ouvi há poucos dias que tenho um jeito “apaziguador”, estou sempre buscando o “meio do caminho”, uma forma de evitar o confronto entre pessoas que gosto e entre mim e essas pessoas. Procede. Ao refletir sobre os seis anos e meio de terapia que fiz, lembro que diversas vezes a psicóloga disse que minha disposição em entender o outro é muito grande e que o perigo é acabar esquecendo do que EU quero.
Pois é. Venho pensando exatamente sobre isso: quem eu sou, o que eu quero, quando é preciso dizer não, etc. Mas aí corro o risco de cair na armadilha de virar uma pessoa auto-centrada como aquelas que descrevi no terceiro parágrafo, não!? Não, se de fato o meu problema for o oposto, o de ser extremamente compreensiva com tudo e com todos.
Por estar com todos esses pensamentos e indagações sobrevoando minha mente e meu coração, sinto-me cansada, triste e sem vontade de falar. Além de correr grande risco de não ser ouvida, tudo que vou ouvir, tenho certeza, são mensagens como “o mundo é assim mesmo”, “sou assim mesmo”, “você precisa entender que...”.
Ao que tudo indica, ninguém mais presta atenção no outro, no que o outro está pensando, no que o outro está sentindo e qual é a nossa participação nisso tudo. Parece que o tempo anda tão escasso que ninguém quer mais desviar o seu próprio caminho um pouquinho para deixar o outro feliz ou contente. “Minha função no mundo não é essa” – claro. Outra frase que está no manual. Pois é. Ou virei peça de museu, ou, no fundo, sou a mais egoísta de todos e ainda não descobri.