quinta-feira, maio 29

Acordei chateada. Uma sinusite que já dura exatos dez dias, a segunda crise em um período de um mês e meio, está me deixando bem mal. É muita pressão no rosto e dor de cabeça. Mas acordei particularmente chateada hoje, porque se tem uma coisa nesta vida que abomino é a reprise, a repetição, o “andar em círculo”. Vivi muito tempo de acordo com esse sistema, que me foi imposto. Conheço todas as suas regras, as suas nuances, as suas armadilhas, as suas máscaras. Passei praticamente sete anos da minha vida me referindo a ele como “o A de eterno” (nem sei por que A, se a palavra “eterno” não tem A).

Acordei chateada, porque estou sempre pronta a dar apoio às pessoas que amo, a estar por perto, a ouvir, mas não tolero mais esse A de eterno. Posso seguir o caminho que for, mas escolho NÃO andar em círculos. O que ouvi ontem à noite me remeteu a essa “vida circular”. Essa sensação de que as coisas não andam para frente, ou de que a percepção de que elas estão caminhando para frente é equivocada... Isso me dá um nervoso. As mesmas afirmações, apenas disfarçadas de conteúdo novo, as mesmas indagações a cerca do que se é e do que se quer, as mesmíssimas questões... E o pior: reflexões que nada tem a ver comigo, mas que acabam vindo na minha direção de forma afiada, disfarçadas de questionamentos momentâneos.
Não posso mudar a cabeça das pessoas, sou impotente nesse sentido. Mas posso sim escolher o que quero fazer diante de determinadas posturas e declarações. Ai...Isso tudo produz pus nas minhas "cavidades paranasais". E não quero isso para mim. Definitivamente, não. Volto ao post anterior: prefiro o silêncio.

sexta-feira, maio 2

Xiiii! Silêncio!


A sutileza do silêncio. Alimento-me dele todos os dias. É a partir dele que me observo, me noto, me sinto viva. Acha que sou esquisita? Adoro!

Quando era mais nova, achava que o silêncio era simplesmente uma comprovação de um espaço vazio e me sentia na obrigação e com o poder de preenchê-lo. Quando no meu primeiro ano de terapia a psicóloga praticamente me mandou calar a boca (“Ué! Mas eu não venho aqui para falar?”), percebi que a minha percepção talvez estivesse um pouco “embaçada” ou talvez cheia de ruídos produzidos pelo meu “excesso de fala”. Hoje, entendo tão bem o que ela quis me dizer...

Conheço pessoas que falam o tempo inteiro, sem ao menos pensar no que estão falando. Indivíduos que têm opinião absolutamente sobre tudo e expõe seus pontos de vista como se fossem verdades universais. Entendem de tudo: desde as combinações de cromossomos a Domingão do Faustão. Se você se preocupa 24 horas por dia em afirmar e reafirmar o que “pensa” sobre as coisas, sobra tempo para pensar mesmo, para refletir, para se dedicar à pura percepção do mundo a sua volta?

Pergunte aos meus amigos e eles te dirão que me incluo no grupo de pessoas que falam muito. Gosto de me comunicar, sou curiosa para saber o que se passa na cabeça do outro, instigo, pergunto. Policio-me para não protagonizar monólogos. Ouvir às vezes é mais enriquecedor, principalmente se o seu interlocutor domina mais o tema daquela conversa que você. Quando isso acontece, viro entrevistadora. Alimento-me do que ouço.

Por outro lado, não tenho paciência para pessoas que dão voltas, que são prolixas, ou que fingem saber algo que não sabem. Se você não tem algo a dizer, simplesmente não diga. Volto para a primeira frase: a sutileza do silêncio.

Sou uma comunicadora por profissão e por vocação, mas tenho valorizado o silêncio cada vez mais. Como é bom chegar em casa à noite, depois de um dia de trabalho, e ouvir... o som do silêncio. Ele é rico, te proporciona entrar verdadeiramente em contato com você. Se um milhão de pensamentos surgem, deixe eles fluirem sem tentar controlá-los. Mas para falar a verdade gosto mais quando passo alguns instantes como se minha mente estivesse “esvaziada”, como se eu apenas existisse. Só. São poucos os momentos em que isso acontece e só percebo depois que eles já se foram. Como é bom!

Por falar em silêncio, no fim de semana passado fui assistir a “Fôlego”, filme do coreano Kim Ki-Duk. O longa-metragem é repleto de silêncios que preenchem a história. O sofrimento silencioso da mulher que decide buscar no presidiário a atenção que não consegue obter do marido e, ao mesmo tempo, a sua cantoria caricatural quando está com o preso... As cenas dos encarcerados não têm diálogo e, mesmo assim, são cheias de significado.

E você? Aprecia o silêncio para recarregar as baterias?