sexta-feira, maio 2

Xiiii! Silêncio!


A sutileza do silêncio. Alimento-me dele todos os dias. É a partir dele que me observo, me noto, me sinto viva. Acha que sou esquisita? Adoro!

Quando era mais nova, achava que o silêncio era simplesmente uma comprovação de um espaço vazio e me sentia na obrigação e com o poder de preenchê-lo. Quando no meu primeiro ano de terapia a psicóloga praticamente me mandou calar a boca (“Ué! Mas eu não venho aqui para falar?”), percebi que a minha percepção talvez estivesse um pouco “embaçada” ou talvez cheia de ruídos produzidos pelo meu “excesso de fala”. Hoje, entendo tão bem o que ela quis me dizer...

Conheço pessoas que falam o tempo inteiro, sem ao menos pensar no que estão falando. Indivíduos que têm opinião absolutamente sobre tudo e expõe seus pontos de vista como se fossem verdades universais. Entendem de tudo: desde as combinações de cromossomos a Domingão do Faustão. Se você se preocupa 24 horas por dia em afirmar e reafirmar o que “pensa” sobre as coisas, sobra tempo para pensar mesmo, para refletir, para se dedicar à pura percepção do mundo a sua volta?

Pergunte aos meus amigos e eles te dirão que me incluo no grupo de pessoas que falam muito. Gosto de me comunicar, sou curiosa para saber o que se passa na cabeça do outro, instigo, pergunto. Policio-me para não protagonizar monólogos. Ouvir às vezes é mais enriquecedor, principalmente se o seu interlocutor domina mais o tema daquela conversa que você. Quando isso acontece, viro entrevistadora. Alimento-me do que ouço.

Por outro lado, não tenho paciência para pessoas que dão voltas, que são prolixas, ou que fingem saber algo que não sabem. Se você não tem algo a dizer, simplesmente não diga. Volto para a primeira frase: a sutileza do silêncio.

Sou uma comunicadora por profissão e por vocação, mas tenho valorizado o silêncio cada vez mais. Como é bom chegar em casa à noite, depois de um dia de trabalho, e ouvir... o som do silêncio. Ele é rico, te proporciona entrar verdadeiramente em contato com você. Se um milhão de pensamentos surgem, deixe eles fluirem sem tentar controlá-los. Mas para falar a verdade gosto mais quando passo alguns instantes como se minha mente estivesse “esvaziada”, como se eu apenas existisse. Só. São poucos os momentos em que isso acontece e só percebo depois que eles já se foram. Como é bom!

Por falar em silêncio, no fim de semana passado fui assistir a “Fôlego”, filme do coreano Kim Ki-Duk. O longa-metragem é repleto de silêncios que preenchem a história. O sofrimento silencioso da mulher que decide buscar no presidiário a atenção que não consegue obter do marido e, ao mesmo tempo, a sua cantoria caricatural quando está com o preso... As cenas dos encarcerados não têm diálogo e, mesmo assim, são cheias de significado.

E você? Aprecia o silêncio para recarregar as baterias?

3 comentários:

Glauco Paiva disse...

Eu tinha um professor de teatro que dizia "cuidado ao falar! Todo texto é uma armadilha!"
Sabe que ele tinha razão?

herschell disse...

Achei legal, imagina td dia ouvir besteiras..Tinha um amigo velhinho,um pouco surdo que usava um aparelho para melhorar sua audição, mantinha-o sempre desligado,quando perguntava-lhe porque, ele dizia,estou de saco cheio de ouvir bobagens na vida.

Gabriel Cavalcanti da Fonseca disse...

Como um cara que sabe falar através de silêncios, posso dizer que entendo o que você quis dizer de um outro ponto de vista.
Acho o silêncio necessário e muitas vezes maravilhoso.
Mas pode ser opressor também. E às vezes melancólico. Enfim, assim como existem muitas palavras, existem muitos silêncios.

Bom estar por aqui e poder ler pensamentos. Gostei muito. Não vou me alongar em elogios óbvios ao texto.

Beijo