terça-feira, dezembro 16

Hoje é dia de show!!!!




flamenco
dai-me uma guitarra
um flamenco a contagiar-me
uma guitarra para os meus braços
e ancas dançarem livres
uma carmem as cordas rascantes,
as palmas e os tacos a marcarem o solo e o ritmo.
o ritmo na ponta do corpo
um copo de vinho
bebido sobre o riso
e as mãos a marcarem a intenção
de matar ou morrer de amor
a vida da música
dai-me!

terça-feira, dezembro 9


Se há defesa, é porque existe medo. Se a reação a uma constatação verbal é imediata, é porque ainda dói, mesmo que você não queira prestar atenção na dor. Se você desaba em lágrimas logo depois de ter levantado o escudo, assuma que às vezes é necessário abandonar a vestimenta de mulher independente. E chorar, chorar mesmo, como uma menina indefesa.

Meu dia no divã começou assim hoje.

Foi uma daquelas sessões em que você entra dona de si e “equilibrada”, mas logo a psicóloga te dá uma rasteira e te mostra que Freud sempre lê nas entrelinhas...


quinta-feira, novembro 20

Um comentário um pouco atrasado, mas é que ainda estou sorrindo e estou achando ainda tudo meio esquisito, deliciosamente esquisito:

A vida tem me mostrado que as boas surpresas só aparecem mesmo quando não estamos esperando... Não funciona abrindo os braços, e pedindo em voz alta para o céu "dê-me algo surpreendente!"

Venho descobrindo que ADORO ser mimada... E ADOREI... Bem, quero ficar mais vezes quieta e concentrada na montanha-russa!

terça-feira, novembro 18

Termina um ciclo. Que comece um novo! :)

Por que é tão difícil abrir mão de um projeto fracassado ou cujo ciclo de vida já terminou? Por que há tanta gente chorando por aí devido a uma frustração de um fim de relacionamento? Porque é bem difícil olhar para o término com uma simples análise de “NÃO DEU, NÃO ROLOU”. Quem está de fora consegue fazer isso. Mas para o dono do coração machucado, o buraco é mais embaixo.

A sintonia entre duas pessoas termina porque ela acaba. Foge de uma explicação milimétrica ou de uma causa cronologicamente detectável. Da mesma forma que o desejo de estar junto se alimenta de pequenos e grandes momentos, de pactos firmados no silêncio, da cumplicidade que brota naturalmente, e da decisão de acreditar que o outro é especial porque o outro te faz muito bem; o enfraquecimento do “a gente” ocorre aos poucos, em pequenos desentendimentos, em alguns excessos de individualidade sucessivos, em tênues interrupções de encantamento, na divergência de planos.

Assim como muitas vezes não queremos ver que estamos cada vez mais envolvidos com aquela pessoa que conhecemos há pouco tempo e afirmamos sem convicção “não, não estamos levando a sério coisa alguma"; quando o gráfico do desejo inverte sua curva e começa a declinar, também demoramos a querer enxergar o início e o meio do fim – o que dirá declarar a sua morte, como fazem os médicos ao constatar que o paciente já não respira mais na mesa de operação. É triste, é doloroso, mas na maior parte das vezes, inevitável. É preciso encarar de frente a verdade universal: somos impotentes em muitos casos e a sabedoria está justamente em reconhecer quando chegou a hora de "jogar a toalha" e dizer "que puxaaa..."

Até existem técnicas de ressuscitamento... Acho que conversar ajuda. Mas devo dar um conselho, baseado em experiência própria: falar demais tem efeito contrário. Não esclarecer as coisas nunca é bom, porque acaba gerando desentendimentos, mas a verborragia é prejudicial à saúde de qualquer relação. Se você tenta explicar e prever até o que não aconteceu ainda e talvez nem aconteça, não sobra espaço algum para o inusitado desta nossa vida, para a mágica do indescritível...

Anyway. É sim difícil, bem difícil, abdicar de um desejo que a gente quis muito, construído dia a dia. Dói. E às vezes as pessoas se apegam a ele, exclusivamente a ele, quando tudo à sua volta já se foi, quando já “NÃO DÁ, NÃO ROLA MAIS”. E o que ficam são as lembranças dos bons momentos que, com o tempo, serão mais um punhado de doces memórias no nosso livro que começamos a escrever assim que nascemos. Mas até lá... leva tempo, meu caro. É um PRO-CES-SO. Não dá para pular etapas. As dores do coração nunca serão tranqüilas, mesmo para aqueles que decidem “congelar” o outro, “matar” o outro. A dor continua ali, mesmo mascarada, mesmo escondida e ainda mais difícil de ser alcançada pelo metiolate do tempo.

Bem...Pode ser que demore menos tempo do que você imaginou... Quem sabe? Quem sabe se já já surge um “novo projeto”? Mas de novo: nada disso é previsível. Viver não é previsível. E a grande graça, pelo menos para mim, é QUERER. É o mais importante verbo da vida.

segunda-feira, novembro 3

O findi

Apesar dos dias "mais comprimidos", tenho me distraído e é muito bom estar entre amigos...

Sexta, foi dia de me esbaldar na pista de dança com as minhas melhores amigas; o sábado começou com um "passeio consumista" na Nossa Senhora de Copacabana com uma outra amiga, e terminou com uma sessão de DVD, com o filme "O Vidente", na cia. de um amigo divertido que me livrou de um "bode" que estava querendo aparecer e me deixar deprimida (o filme é que não é lá essas coisas, apesar do Nicolas Cage e da Julianne Moore)... No domingo, adorei! O sol contrariou a meteorologia e o dia foi de praaaia... Como fiquei de óculos escuros o tempo todo, o saldo: pareço uma rena do nariz vermelho... :)
De novo, me programei para estudar e colocar a leitura em dia, e não cumpri... Ah! Mas fazer o quê? Estou em busca da leveza...

Lindo texto da Martha Medeiros...

A DOR QUE DÓI MAIS

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido às aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

sábado, novembro 1

Sometimes you just have to breath

(...)

"There's a light at each end of this tunnel
You shout cause you're just as far in as you'll ever be out
And these mistakes you've made
You'll just make them again if you'll only try turnin' around
2 AM and I'm still awake writing this song
If i get it all down on paper it's no longer inside of me
Threatening the life it belongs to.
And I feel like I'm naked in front of the crowd
Cause these words are my diary screamin' out aloud
And I know that you'll use them however you want to.
But you can't jump the track
We're like cars on a cable
And life's like an hourglass glued to the table,
No one can find the rewind button now
Sing it if you understand...yeah breathe
Just breathe, oh oh breathe, just breathe, oh breathe,
just breathe, oh breathe, just breathe..."

(Anna Nalick / "Breath")

Sumi, mas voltei!

Meus caros 2,3454 leitores... Desculpe pelo sumiço nesses quase dois meses... Peguei um caminho errado, errei a curva. Sabe quando às vezes dar três voltas a mais no quarteirão é importante para percebermos direito a paisagem pela qual passamos correndo antes? Ou para descobrir que aquela outra estrada era melhor?

Enfim... Não vim aqui escrever durante todo esse tempo, porque sentia que não havia muita coisa a dizer. Mas agora voltei!!!!!!!!!! Fiz o que aconselhei minha amiga a fazer, no post anterior. "Tamos na área." :)

terça-feira, setembro 2

Recado a uma GRANDE amiga!

Um dos nossos maiores erros: achar que os padrões de comportamento adotados por nós são a nossa essência. Dedico este post a uma grande amiga minha que só conseguirá paz de espírito quando conseguir perceber que está cometendo esse equívoco e que é hora de se “reprogramar”.

Nossas células se comunicam e produzem substâncias o tempo todo. Quando temos pensamentos bons, ou relembramos experiências prazerosas, a tendência é nos sentirmos melhor. Não é apenas um processo psicológico, mas químico: substâncias relacionadas a esse estado de alegria são liberadas com o objetivo de mantê-lo. O problema é que o contrário também ocorre. Se você entra no que eu chamo carinhosamente de “onda errada”, é difícil sair, porque suas células vão produzindo e sendo “contaminadas” por substâncias que se encarregam de te deixar cada vez mais para baixo. E aí um pensamento ruim leva a outro, que chama o outro, que grita por um pior e, quando você vê, o chão é pouco.

Mas há ainda um agravante: se nos habituamos a manter pensamentos negativos que alimentam essa “onda errada”, nosso corpo começa a ser programado para manter esse processo mais vezes e por mais tempo. E o que acontece? A “onda errada” se transforma em uma verdade absoluta tão forte que você se acha culpada (o) de tudo, ruim em tudo, vítima do mundo, a pessoa mais azarada do mundo e com um futuro péssimo pela frente. As conexões cerebrais já foram bem abaladas e só um grande esforço e uma grande força de vontade te farão sair dessa. Nos casos mais brandos, isso se chama “estado deprimido”; em casos mais graves, depressão.

Antigamente, eu não tinha “onda errada”: eu tinha verdadeiros “furacões”. Eu permitia que a minha imaginação fluísse para os caminhos mais tenebrosos e tortos, fazendo com que o meu mundo ficasse preto e branco num piscar de olhos. Era péssimo. Uma sensação de “falta de chão”. Tudo alimentado pelo meu costume de supor coisas, de ansiar por descobrir o que está por vir e... POR ME AGARRAR À VONTADE DE QUE AS COISAS ACONTECESSEM DO JEITO QUE EU TINHA ESPERADO E DE QUE AS PESSOAS AGISSEM DE ACORDO COM O MEU SCRIPT.

Depois de bater muito com a cabeça, vi que eram sofrimentos aos quais eu mesma estava me submetendo. Tudo/nada, princesa/plebéia, festa/guerra... Durante anos, eu só soube (ou escolhi, Who knows?) viver nesse esquema de 8 ou 80. Essa gráfico com fortes oscilações é muito prejudicial.

Você não controla o mundo, não decide pelas pessoas e nem é o centro do universo. Essa descoberta é simplesmente libertadora e calmante. Por outro lado, você tem o imenso poder de fazer as suas próprias escolhas, de conversar com a sua própria mente e pedir para ela pegar leve de vez em quando. Você é o CENTRO DO SEU UNIVERSO. Você é mais forte do que qualquer padrão de comportamento praticado anos a fio. Dá trabalho, mas é possível mudar. O ponto de partida é dizer a si mesma: EU POSSO, EU QUERO.

Observação: Dos furacões já consegui me livrar, mas de vez em quando dou uma escorregada e onda errada aparece. No entanto, estou cada vez mais treinada em transformá-la em marola.

Por que preto e branco?

Acordei hoje com uma sensação de que o tempo está passando e eu não estou ocupando os meus dias com coisas que realmente importam para mim. Já se sentiu assim? Neste último fim de semana, por exemplo, me deu uma louca vontade de começar alguma atividade artística, como pintar quadros, fazer colagens, mosaicos, ou sei lá mais o quê.

Acordei irritada também comigo. Ando aproveitando pouco o meu tempo. Fazendo mais do mesmo. Quanto mais eu ficar na frente da TV assistindo DVDs de seriados americanos, mais terei essa sensação de que já já farei 30 (isso é um fato, março já já chega) e não fiz o que queria fazer antes de virar balzaca.

Li um texto uma vez que dizia que devíamos viver algo diferente a cada dia. Não precisa ser um grande acontecimento, basta ser uma experiência que seja legal o suficiente para você ter vontade de registrá-la e eternizá-la de alguma forma em uma fotografia. Quero adotar essa filosofia.

Aiii! Estou mal-humorada!!!! Principalmente depois de ter lido o meu post anterior. Cadê a malhadora?

quinta-feira, agosto 14

Corpo são, mente sã!




Determinei a mim mesma que esta minha semana seria dedicada à malhação noturna. Hoje é quinta-feira e estou satisfeita comigo! O saldo até agora: duas aulas de boxe, uma aula de Body Balance, uma aula de Mat Pilates e uma aula de Body Combat. Cinco aulas em três dias!!!!! Dor no corpo? Hoje, não. Mas até ontem rir era uma atividade dolorida...

A malhação esta semana tem sido bem divertida. Nada melhor do que se exercitar em boa companhia! E o que tem me feito bem também é essa sensação de que estou conseguindo “esticar” os meus dias, de que meus dias úteis não são feitos apenas de trabalho, computador... Como estou me sentindo saudável!

terça-feira, agosto 12

Perspectiva

Passa sim. TUDO passa. A vida é feita de instantes que se conectam e se entrelaçam, nesta nossa constante dança de ritmos distintos, definidos de acordo com a ocasião e com a festa: passos que marcam um processo contínuo alternam com batidas que sinalizam o fim ou o início de um novo ciclo. Às vezes, nós mesmos escolhemos a música e a coreografia; às vezes, somos apenas conduzidos e não temos outra opção.

Há momentos felizes e momentos tristes. Faz parte. Cabe a nós entender essa dinâmica e lidar com ela da melhor maneira possível. Para mim, a grande sabedoria está em saber vivê-los intensamente, mas com desprendimento, pois cada um deles... vai passar. Demorei muito para enxergar isso, mas hoje essa perspectiva faz cada vez mais parte de mim.

É necessário usar periodicamente a nossa balança de valores para dar peso às coisas e às pessoas. O primeiro passo é perceber e entender que dar ao outro o poder de TE fazer feliz ou de TE realizar é no mínimo injusto com o outro e a garantia de decepção e infelicidade.

Acho que andei lendo muito Osho, Eckhart Tolle, Nuno Cobra... Apesar das linhas e pensamentos diferentes, todos eles batem na mesma tecla, de uma forma ou de outra (e eu concordo):

O que existe é o presente. O passado é sempre reinventado e reescrito por nós, nunca lembramos dele da forma como ele de fato foi. O futuro é apenas uma convenção humana – na verdade, ele nunca vai chegar. O que existe é o presente. Seja feliz no presente. Busque a paz de espírito no presente.

Quando consigo essa paz, comemoro e me sinto bem-sucedida. Quando bate ansiedade ou tristeza, presto atenção e espero elas irem embora, tentando aprender algo com a sua visita. Na prática, não é fácil. É um baita exercício de autoconhecimento e, muitas vezes, eu erro na mão. Mas não desisto nunca!

sexta-feira, julho 25

Cansei de ficar pensando. A minha ordem do dia é LEVEZA. Não vou levar mais as coisas tão a sério. Nem A MIM. Vou observar mais do que filtrar, vou enxergar mais do que interpretar, vou brincar mais de estátua para olhar para dentro e me mexer mais para deixar a energia fluir.

Quero contemplar a beleza da vida.

sábado, julho 12

"Às vezes contruímos sonhos em cima de grandes pessoas...

O tempo passa...

E descobrimos que grandes eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais."

quinta-feira, junho 5

Adeus ao Canalha Amarelo (crônica da Cora Ronai)


Era um jovem gato tigrado, amarelo, cem por cento vira-lata. Estava sendo embebedado de cerveja por uma turma de boçais que, ainda por cima, o chutavam de cá para lá, achando tudo muito divertido. De repente, um bípede pequeno, normalmente meigo e de aparência inofensiva, entrou como uma fúria bar adentro. Deu meia dúzia de berros com os marmanjos, pôs em questão sua virilidade e a profissão das senhoras suas mães, catou o gato e foi embora, com o mesmo ímpeto com que entrara. Quando chegou em casa, a um quarteirão do Moska, pé-sujo onde se deu a confusão, a Bia ainda estava enfurecida. Esperei que se acalmasse.Já tínhamos quatro gatos que, a essa altura, demonstravam claramente a sua opinião a respeito do recém-chegado. O que faríamos com ele? Bia sugeriu que lhe déssemos guarida até arranjarmos quem o quisesse. Encontrar lar para o gatinho não seria difícil. Passada uma semana, porém, descobrimos que difícil, mesmo, seria nos desfazermos dele: os dias voavam, e nenhuma de nós movia uma palha para arrumar o tal lar. Eu estava cheia de trabalho, a Bia estava cheia de provas. Num fim-de-semana deu praia. No outro não deu. Enquanto isso, ele ia se enturmando com os gatos da casa. Pelo sim pelo não, levei-o ao veterinário. -- Como se chama?Como o bichinho era teoricamente temporário, respondi a primeira coisa que me passou pela cabeça:-- Mosca.Na ficha, acrescentei a extensão .TMP, de “temporário”: a Famiglia Gatto sempre teve nomes com extensões, como arquivos de computador. Cátia e Tati, as mais velhas, eram .CAT; Keaton e Cotton, seus respectivos filhotes, eram .BAK, de backup. Mas como nada é mais permanente do que o temporário, o Mosca foi ficando, ficando... até nos esquecermos que estava só de passagem. (Nota tecnológica: o DOS, sistema operacional que exigia dos usuários o conhecimento das extensões de arquivo e seu significado, foi engolido pelo Windows, em que ninguém precisa saber mais nada. As extensões dos nomes da Famiglia tornaram-se irrelevantes, um private joke de usuários das antigas, e foram ficando pelo caminho.)
* * *
Ao longo dos anos, como costuma acontecer com os gatos, o Mosca ganhou alguns apelidos. Foi Leão da Savana porque até hoje estou convencida de que, quando sonhava, se via no alto dos seus domínios, o rei do pedaço; além disso, vivia à espreita, sempre à espera de algum gato, perna ou brinquedo para o bote. E foi, sobretudo, o Canalha Amarelo, porque, como todo malandro de botequim, era, de fato, um perfeito canalha.Era a paixão das cozinheiras, que cortejava com a maior desfaçatez. Quando estávamos comendo, sentava-se à mesa, olhando para um ponto qualquer no horizonte, como se nada do que estivesse sendo servido o interessasse ou lhe dissesse respeito. Mas bastava que a Bia ou eu nos distraíssemos que, zás! lá vinha a pata cheia de unha, rápida como o raio, roubando um bife ou um pedaço de frango. O dono da pata voava com a presa para o quarto, onde se enfiava debaixo da cama, no único ponto da casa em que braço algum conseguia alcançá-lo -– e lá se fartava com a caça. É claro que não nos distraíamos sempre, para que ele não perdesse a emoção da aventura; e é claro, também, que sempre corríamos atrás, aos gritos, como se estivéssemos muito zangadas.
* * *
Mosca teve duas grandes paixões: Mamãe e a Tutu, uma gatinha ainda mais vira-lata do que ele, que a Bia trouxe da rua um ou dois anos depois. Foi amor à primeira vista. Os dois viviam juntos, dormiam abraçados, trocavam manifestações constantes de carinho. Era comovente vê-los juntos.O caso com Mamãe foi mais complicado. Começou quando ela passou uma temporada aqui em casa, e o Mosca decidiu adotá-la. Seguia-a por toda parte, dormia no seu quarto e fazia cenas de ciúme quando outro gato tentava filar carinho. Um dia, Mamãe voltou para o sítio. O Canalha Amarelo ficou visivelmente abalado. Expliquei que Mamãe mora em Friburgo, que só esteve aqui de passagem, que não era nada pessoal, mas não adiantou. Quando ela reapareceu, meses depois, fez questão de ignorá-la. Não houve agrado ou suborno escancarado da Mamãe que o fizesse mudar de idéia. Com o tempo, felizmente, a atitude intransigente passou; o Mosca não era de guardar rancor. Mas, pelo sim pelo não, nunca mais se dedicou a bípede algum como se dedicou a Mamãe, naqueles meses cariocas.
* * *
Em março passado, caiu doente. O diagnóstico, peritonite infecciosa felina, era uma sentença de morte. A doença é altamente contagiosa entre gatos, mas como os da Famiglia vivem juntos há tantos anos, achei que isolá-lo dos demais seria não só inútil, como cruel: tirar a sua qualidade de vida, justo no fim, era coisa que eu não faria. Graças ao dr. Allecx Ferrari, ainda ganhou dois meses bem razoáveis. Estava fraquinho, mas curtia o sol que entrava pela janela, comia com apetite, tinha energia suficiente para pular para os seus cantos prediletos e, sobretudo, passou muitas e muitas horas abraçado com a Tutu.Na sexta passada, nem o barulho de latas sendo abertas na cozinha o estimulou a deixar seu cantinho. No sábado, o quadro se agravou além de qualquer esperança: já não conseguia sequer se manter de pé. O Canalha Amarelo despediu-se pouco depois da meia-noite, quietinho, no meu colo. Manteve até o fim o brilho no olhar que, 15 anos antes, me convenceu que, apesar da aparência singela, no peito daquele gatinho batia o coração de um Leão da Savana. (O Globo, Segundo Caderno, 5.6.2008)

quinta-feira, maio 29

Acordei chateada. Uma sinusite que já dura exatos dez dias, a segunda crise em um período de um mês e meio, está me deixando bem mal. É muita pressão no rosto e dor de cabeça. Mas acordei particularmente chateada hoje, porque se tem uma coisa nesta vida que abomino é a reprise, a repetição, o “andar em círculo”. Vivi muito tempo de acordo com esse sistema, que me foi imposto. Conheço todas as suas regras, as suas nuances, as suas armadilhas, as suas máscaras. Passei praticamente sete anos da minha vida me referindo a ele como “o A de eterno” (nem sei por que A, se a palavra “eterno” não tem A).

Acordei chateada, porque estou sempre pronta a dar apoio às pessoas que amo, a estar por perto, a ouvir, mas não tolero mais esse A de eterno. Posso seguir o caminho que for, mas escolho NÃO andar em círculos. O que ouvi ontem à noite me remeteu a essa “vida circular”. Essa sensação de que as coisas não andam para frente, ou de que a percepção de que elas estão caminhando para frente é equivocada... Isso me dá um nervoso. As mesmas afirmações, apenas disfarçadas de conteúdo novo, as mesmas indagações a cerca do que se é e do que se quer, as mesmíssimas questões... E o pior: reflexões que nada tem a ver comigo, mas que acabam vindo na minha direção de forma afiada, disfarçadas de questionamentos momentâneos.
Não posso mudar a cabeça das pessoas, sou impotente nesse sentido. Mas posso sim escolher o que quero fazer diante de determinadas posturas e declarações. Ai...Isso tudo produz pus nas minhas "cavidades paranasais". E não quero isso para mim. Definitivamente, não. Volto ao post anterior: prefiro o silêncio.

sexta-feira, maio 2

Xiiii! Silêncio!


A sutileza do silêncio. Alimento-me dele todos os dias. É a partir dele que me observo, me noto, me sinto viva. Acha que sou esquisita? Adoro!

Quando era mais nova, achava que o silêncio era simplesmente uma comprovação de um espaço vazio e me sentia na obrigação e com o poder de preenchê-lo. Quando no meu primeiro ano de terapia a psicóloga praticamente me mandou calar a boca (“Ué! Mas eu não venho aqui para falar?”), percebi que a minha percepção talvez estivesse um pouco “embaçada” ou talvez cheia de ruídos produzidos pelo meu “excesso de fala”. Hoje, entendo tão bem o que ela quis me dizer...

Conheço pessoas que falam o tempo inteiro, sem ao menos pensar no que estão falando. Indivíduos que têm opinião absolutamente sobre tudo e expõe seus pontos de vista como se fossem verdades universais. Entendem de tudo: desde as combinações de cromossomos a Domingão do Faustão. Se você se preocupa 24 horas por dia em afirmar e reafirmar o que “pensa” sobre as coisas, sobra tempo para pensar mesmo, para refletir, para se dedicar à pura percepção do mundo a sua volta?

Pergunte aos meus amigos e eles te dirão que me incluo no grupo de pessoas que falam muito. Gosto de me comunicar, sou curiosa para saber o que se passa na cabeça do outro, instigo, pergunto. Policio-me para não protagonizar monólogos. Ouvir às vezes é mais enriquecedor, principalmente se o seu interlocutor domina mais o tema daquela conversa que você. Quando isso acontece, viro entrevistadora. Alimento-me do que ouço.

Por outro lado, não tenho paciência para pessoas que dão voltas, que são prolixas, ou que fingem saber algo que não sabem. Se você não tem algo a dizer, simplesmente não diga. Volto para a primeira frase: a sutileza do silêncio.

Sou uma comunicadora por profissão e por vocação, mas tenho valorizado o silêncio cada vez mais. Como é bom chegar em casa à noite, depois de um dia de trabalho, e ouvir... o som do silêncio. Ele é rico, te proporciona entrar verdadeiramente em contato com você. Se um milhão de pensamentos surgem, deixe eles fluirem sem tentar controlá-los. Mas para falar a verdade gosto mais quando passo alguns instantes como se minha mente estivesse “esvaziada”, como se eu apenas existisse. Só. São poucos os momentos em que isso acontece e só percebo depois que eles já se foram. Como é bom!

Por falar em silêncio, no fim de semana passado fui assistir a “Fôlego”, filme do coreano Kim Ki-Duk. O longa-metragem é repleto de silêncios que preenchem a história. O sofrimento silencioso da mulher que decide buscar no presidiário a atenção que não consegue obter do marido e, ao mesmo tempo, a sua cantoria caricatural quando está com o preso... As cenas dos encarcerados não têm diálogo e, mesmo assim, são cheias de significado.

E você? Aprecia o silêncio para recarregar as baterias?

sexta-feira, abril 25

"O gato não oferece favores. Ele oferece a si mesmo. Claro que ele quer cuidado e abrigo. Não se consegue amor em troca de nada. Como todas as criaturas puras, os gatos são práticos."

William Burroughs

terça-feira, abril 22

Gentileza na Livraria da Travessa

Preciso dividir isto com os meus 2,4323 leitores...

Na semana passada, estava eu fugindo da chuva no centro e tendo que fazer hora, quando decidi entrar na Livraria da Travessa da Avenida Rio Branco...

Assim que entrei, um segurança veio ao meu encontro, com um sorriso nos lábios, e um saco plástico: "Senhora, quer guardar o seu guarda-chuva?" Fiquei um segundo muda tentando absorver tamanha gentileza... Não só aceitei, como o elogiei.

Logo depois, olhei em volta, dentro da livraria, e vi que o ambiente realmente estava todo sequinho e que a paz reinava, ao contrário do caos urbano que eu havia deixado há instantes... Em vez de dez minutos, acabei ficando meia hora e saí de lá com dois livros.

As livrarias deveriam investir mais na simpatia e gentileza de seus seguranças para aumentar suas vendas!!!! :)

domingo, abril 20

O que você sente será sempre seu, exclusivamente seu. Os outros, uma incógnita.

quinta-feira, março 27

Solidão ou egocentrismo?

A certeza de se estar sozinho no mundo, de ser solitário em seus próprios sentimentos, é constantemente difundida pelos psicólogos na ânsia de dar um conforto aos pacientes – “Está se sentindo só? Não se preocupe, é assim mesmo.” A constatação está lá no último livro do Irvim Yallow que eu li, “Carrascos do Amor”.

Concordo com a afirmação. Por mais que se tente expressar em palavras o que nossas emoções estão nos dizendo internamente, é impossível fazê-lo com fidelidade total. É como um amigo me disse ontem, numa conversa temperada com uma boa taça de vinho: “Às vezes, o silêncio fala muito mais do que diversas palavras.” Acredito que é por isso que ando tão reticente em hablar.

Estou com a sensação de que as pessoas neste mundo estão tão preocupadas com o seu próprio umbigo, com seus próprios problemas, com as suas próprias necessidades, com os seus próprios pensamentos e sentimentos que o ato de tentar compartilhar o que se passa comigo parece tolo e em vão. Aliás, seguindo esse mesmo raciocínio, essa teoria de que somos, no fundo, um bando de sozinhos co-habitando o mesmo planeta parece simplesmente redundante.

Ouvi há poucos dias que tenho um jeito “apaziguador”, estou sempre buscando o “meio do caminho”, uma forma de evitar o confronto entre pessoas que gosto e entre mim e essas pessoas. Procede. Ao refletir sobre os seis anos e meio de terapia que fiz, lembro que diversas vezes a psicóloga disse que minha disposição em entender o outro é muito grande e que o perigo é acabar esquecendo do que EU quero.

Pois é. Venho pensando exatamente sobre isso: quem eu sou, o que eu quero, quando é preciso dizer não, etc. Mas aí corro o risco de cair na armadilha de virar uma pessoa auto-centrada como aquelas que descrevi no terceiro parágrafo, não!? Não, se de fato o meu problema for o oposto, o de ser extremamente compreensiva com tudo e com todos.

Por estar com todos esses pensamentos e indagações sobrevoando minha mente e meu coração, sinto-me cansada, triste e sem vontade de falar. Além de correr grande risco de não ser ouvida, tudo que vou ouvir, tenho certeza, são mensagens como “o mundo é assim mesmo”, “sou assim mesmo”, “você precisa entender que...”.

Ao que tudo indica, ninguém mais presta atenção no outro, no que o outro está pensando, no que o outro está sentindo e qual é a nossa participação nisso tudo. Parece que o tempo anda tão escasso que ninguém quer mais desviar o seu próprio caminho um pouquinho para deixar o outro feliz ou contente. “Minha função no mundo não é essa” – claro. Outra frase que está no manual. Pois é. Ou virei peça de museu, ou, no fundo, sou a mais egoísta de todos e ainda não descobri.

sexta-feira, março 7

Escolhas

A auto-análise sobre as nossas escolhas é sempre muito difícil. Há tantas possibilidades e tantos caminhos a percorrer... Quando se tem 15, 18 anos, não há tempo e talvez nem amadurecimento suficiente para fazer esse exercício. Vai se vivendo, assim simplesmente. Experimentando, testando, sentindo e curtindo...

Mas quando se chega perto dos 30 anos a visão de mundo inevitavelmente muda. Já fizemos muita coisa, já experimentamos muita coisa e ainda temos muito tempo para novas experiências. Só que a inconseqüência já não existe mais e, mesmo quando queremos jogar para o alto qualquer tipo de planejamento ou de reflexão sobre o que vamos fazer e agir impulsivamente, já é diferente do que fazíamos na época da faculdade. O impulso já é, em si, resultado de uma decisão prévia de não querer olhar para o depois naquele momento. Ou seja, a idéia de passado e futuro já está entranhada na gente, o que foi conta sim e o que será é uma certeza, apesar de não sabermos seu formato, cor ou tamanho.

Por outro lado, perto dos 30 anos já temos ferramentas que nos permitem relativizar acontecimentos e emoções, sejam eles positivos ou negativos. A consciência sobre a temporalidade e o efêmero, se bem empregada por nós, vale ouro. A certeza de que tudo vai passar – amores, empregos, dores de dente, pele macia e lisa, momentos felizes, tristezas repentinas, paixões avassaladoras – nos ensina como funciona esta nossa vida que, muitas vezes, parece ser tão poderosa e, ao mesmo tempo, tão frágil.

Podemos tentar reverter resultados, afinal, só a morte não tem mais jeito. Se um caminho que parecia ser de pedras amarelas se mostrar cinzento, volte. Retorne ao ponto de partida, ou busque um atalho no meio do percurso. Mas as experiências vividas ao optar por um rumo, ao decidir voltar em um dado momento, ao tomar uma determinada atitude, essas ficam. São como carimbos no passaporte. Você pode até não ter gostado da cidade visitada, não ter aproveitado nada do passeio pois estava com a cabeça em alguém ou em outro lugar. Mas não tem jeito: o selo de cada alfândega está lá...

Já quis ser muitas pessoas na minha vida e continuo ainda querendo ser tantas outras – falo em “perfis” diferentes e não em seres específicos que conheço. Um dos meus grandes medos é me limitar a determinadas escolhas e não enxergar outras bem mais atraentes.

Talvez seja por isso que estou sempre me perguntando se é hora de me reinventar novamente.

quarta-feira, março 5

Férias!!

Férias! Até o dia 24, exclusive...

Uma das minhas atividades desde segunda-feira tem sido me entregar despretensiosamente à leitura... Estou lendo "1808", muito bom! Além disso, me dei o prazer de me dedicar a uma edição antiga da revista "Vida Simples" e começar a ler uma revista especial sobre sonhos... Estou no início, na parte que aborda o funcionamento do organismo durante o sono, a fase REM, etc.

Por falar em sonhos, tenho tido uns bem esquisitos. Em uma noite dessas, tive a capacidade de sair de um cenário high tech de academia com um professor gato para uma cela de tortura, em uma caverna, a la "Inquisição"... Isso que dá ficar lendo sobre história, genocídio, nazismo... Acabo sonhando com as práticas tenebrosas da igreja católica, em vez de usar melhor o meu tempo dormindo...

Que calor é este??? Tenho ido à praia desde domingo... Mas sem barraca é impossível!
Vou aproveitar minha magnífica tarde para ir ao shopping! Vou olhar as vitrines sem a menor pressão de ter que ir embora e vou ao cinema! Em plena tarde! :)

quinta-feira, fevereiro 28



Fazemos escolhas o tempo todo. Iniciais, baseadas na vontade; secundárias, após o impacto da realidade. O ideal é se alinhar sempre ao desejo, anyway. “É o que tem para hoje”, costuma dizer um amigo.
Nada de lamentos, ou de "mas por que não é desse jeito?"

VOU ME DIVERTIR NESTAS FÉRIAS... Ah se vou! :)

terça-feira, fevereiro 26

Ambições cotidianas

Você luta diariamente para tentar administrar seu tempo da melhor maneira possível?

Você não consegue sair do trabalho sem estar com o olho ardendo de tanto olhar para o computador ou sem aquela dorzinha no pescoço?

Você se cobra por não ler tudo que gostaria e se critica por, mesmo assim, só querer ler a revista de domingo do jornal O Globo no dia que antecede a segunda-feira?

Você busca “refúgio mental” em séries de TV como Lost, Alias, Without a Trace ou Desperate Housewives?

Você quer sair muito com amigos, ir muito ao cinema, ler muito, trabalhar muito para ver se consegue ganhar muito dinheiro, dormir muito, saber muito e viajar muito, apesar de saber que todos esses desejos são excludentes entre si e que, por castigo divino, o dia só tem 24 horas?

Prazer, temos a mesma alma.
Quero mais de uma vida. Nesta aqui, falta espaço.

segunda-feira, fevereiro 18

No início da semana passada, eu chorava.
Hoje, estou estacionada, de motor desligado; inércia.
Empaquei, perdi o foco. Congelei. Modo stand by.

Não, não apertei o turn off.

Não, não fiz força para acatar o verbo aceitar.
Acho que fui além. Fui parar em outro lugar.
Parece que sequei naturalmente após exposição ao sol sem o uso de filtro solar. Só.

Silêncio. Ausência. Vazio. Para onde foi toda aquela energia?
Mau uso. Excessivo. Alguma previsão sobre a próxima chuva forte?

Mais cedo, anúncio de garoa.
Recusei. Prefiro manter-me concentrada em toda a outra parte do mundo.

Encontrei abrigo na minha zona de conforto chamada "nada".

Praticamente 11 dias de ar seco. Mas quem aqui está contando?
Números. Apenas um método referencial.

Sem espera. Sem expectativa. Sem o “com” em geral.
Ser o que ser sem o querer.

Babel e o passado

Seja no México, Marrocos, Japão ou nos Estados Unidos. Independentemente do cenário geográfico, todos nós somos iguais quando se trata de sentimentos. A frustração causada pela impotência diante de muitas situações; o arrependimento por ter tomado uma decisão que foi o ponto de partida para um acaso que trouxe uma experiência ruim e mudou tudo; a dor da perda de uma pessoa querida. Essa é a lição de “Babel”, do mexicano Alejandro González.

Essa breve análise me remete a outro tema: a existência do passado e a sua influência em nosso comportamento e em nossas emoções. Terminei ontem de ler “O Passado”, do escritor argentino Alan Pauls, considerado pela crítica um dos melhores livros do ano passado. A história é cheia de rupturas e mudanças de rumo (como ocorre de fato na “vida real”), mas o único fator que é mais ou menos linear, que permanece estável e parece “costurar” toda a obra é a memória do narrador, que é o protagonista. O passado dele é o único ingrediente de toda a receita que permanece ali, não vai embora. Pode até ganhar um tempero diferente com o passar do tempo, mas não o abandona nunca.

Até que ponto o passado é presença importante e até que ponto ele é apenas um penetra indesejado? Em “Babel”, os personagens de Brad Pitt e Cate Blanchett viajam para o Marrocos numa tentativa de consertar o casamento abalado pela morte de um dos filhos; a adolescente japonesa vive atormentada pela carência provocada pelo suicídio da mãe.

Em seu livro “O Poder do Silêncio”, Eckhart Tolle, um pesquisador alemão que é considerado um “mestre espiritual, diz que o passado não existe; é apenas uma convenção criada pelo ser humano, assim como o futuro:

“À primeira vista, o momento presente é apenas um entre os inúmeros momentos da sua vida. Cada dia parece se constituir de milhares de momentos em que ocorrem os mais diversos fatos. Mas, se você olhar mais profundamente, irá descobrir que existe apenas um momento. (...) Este exato momento – Agora – é a única coisa da qual você jamais conseguirá escapar, o único fator constante em sua vida. Aconteça o que acontecer, e por mais que sua vida mude, uma coisa é certa: é sempre Agora.”

E um outro raciocínio dele que está me fazendo refletir:

“Ter o domínio completo da vida é o CONTRÁRIO de controlá-la.”

O filme “Babel” ilustra bem isso.

terça-feira, fevereiro 12

Stones taught me to fly
Love taught me to cry
So come on courage!
Teach me to be shy
'Cause it's not hard to fall
And I don't WANNA scare her
It's not hard to fall
And I don't wanna lose
It's not hard to grow
When you know that you just don't know

("Cannonball" - Damien Rice)

Ando nostálgica, eu acho. Lembranças resolveram me rondar... Acho que é isso.

sábado, fevereiro 9


Não sei qual é o meu ponto de equilíbrio e, hoje, estou particularmente em um dia no qual não consigo chegar à conclusão sobre QUEM SOU EU.

De freqüentadora assídua de festas a uma pessoa que adora o silêncio após um dia repleto de comunicação. De total fugitiva dos próprios sentimentos a uma atenta observadora do que se passa neste mundinho particular.

Mas será que não sou apenas uma pessoa de extremos? Só sei transitar pelos excessos?

Continuo em busca da medida. Não ando sabendo o que é uma atitude normal, o que é uma reação natural e o que deve ou não deve me chatear. Se me chateio, não ando apenas falando – acho que engoli um megafone.

Como viver em um mundo onde todo mundo pensa tão diferente e, no fundo, tem os mesmos medos, as mesmas inseguranças?

Quero muito entender qual é o tom... Às vezes, acho que simplesmente derramo sal demais - quando o ideal seria pôr apenas um pouquinho. Acostumei-me ao exagero?

Cadê o meu manual de instruções?

Não estou conseguindo entender nada. Não compreendo o que me dizem, não sei explicar o que me aflige, não ouço direito e, quando falo, percebo que a mensagem que chega ao ouvido do receptor é completamente diferente daquela que emiti.

Alguém pode, por favor, me informar onde é a tecla SAP? Ou só quero a partir de agora filme com legenda. Mas que essa legenda comece explicando para esta pobre criatura aqui quem ela é.

quinta-feira, janeiro 31

Qual é a medida?

Acelera, tira o pé... Agora, mantém a velocidade... Ops! Pára que vai bater. Ponto morto. Agora, põe a 1ª. Legal! 2ª, 3ª, 4ª ... 5ª... Ao que tudo indica, a estrada vai continuar boa desse jeito...

Ops! Errei...Pisa de novo no freio.

Acho que é por isso que bate o cansaço de vez em quando...

segunda-feira, janeiro 28

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...


F.P.

quinta-feira, janeiro 24

Cuidado com o que você come!

Acabei de ler uma reportagem no New York Times que alerta os leitores sobre os sushis da "big apple". O jornal contratou um laboratório para testar amostras do peixe cru de alguns restaurantes da cidade e constatou alta incidência de mercúrio. "O que é seguro comer hoje em dia?", questionou uma mulher que foi "pega no flagra" pelo NYT comendo em um dos restaurantes cuja comida foi condenada pela pesquisa.
Aqui no nosso "país em desenvolvimento" muita gente tem passado mal por ter comido alimentos estragados. Posso falar por mim, inclusive. Uma diarréia e uma febre de 39,5 oC me pegaram de surpresa e até agora não sei quem foi o culpado. Soube de duas amigas e um amigo que também tiveram a mesma experiência recentemente!
Por isso, aconselho a todos: nada de comer qualquer coisa na rua, principalmente nos dias de intenso calor. Para duas amigas, em especial, sugiro: nada de cachorro quente ou de coxinha de galinha, tá!?

domingo, janeiro 6

Um pouco de cada coisa...

Na quinta à noite, assisti ao filme "A Vida dos Outros", uma história linda que se passa na Alemanha Oriental, antes da queda do Muro de Berlim. Recomendo!
Na sexta à noite, terminei de ler "O Carrasco do Amor" - um título de "auto-ajuda" para um livro muito bom de Irvim Yallow, o mesmo autor de "Quando Nietzsche Chorou". Para quem gosta de ler sobre psicologia, mente humana, relações interpessoais, é um prato cheio...
Ontem, para quebrar a seriedade, fui ao cinema ver "P.S. Eu te amo"... Achei que fosse sair leve, leve e... acabei derramando um balde de lágrimas no filme... Mas, com certeza, só emociona o clube da Luluzinha... Homens, fiquem longe!
E desde sexta à noite estou lendo o tijolão de 910 páginas chamado "As Benevolentes", de Jonathan Littell. O livro do americano naturalizado francês e filho de judeus aborda as maldades e assassinatos cometidos pelo nazismo sob a ótica das memórias de um ex-participante que, após a época de atrocidades, se torna dono de uma fábrica de tecidos... O livro gerou polêmica e, apesar de estar ainda na página 47, estou gostando muito (claro que tenho que parar de vez em quando para consultar na internet o significado de algumas palavras em alemão que aparecem no texto - tem um glossário no fim, mas não é completo).
Nesse meio tempo, para relaxar, estou assistindo ao segundo DVD da primeira temporada do "24 Horas" - boa série, mas ainda prefiro "Without a Trace"...
É isso! Meu domingo está sendo todo dedicado à introspecção e à solidão acompanhada de livro, DVD e dos meus queridos filhos - Clicquot há cinco minutos se jogou no meu colo e Trigo está dormindo pertinho de mim também, mais precisamente em cima da capa do notebook...