sexta-feira, dezembro 28

Balanço / 2007

Definitivamente, 2007 foi um ano muito bom! Um ano de decisões importantes e de entrada de coisas muito boas na minha vida!!!!!

Em primeiro lugar: conquistei a independência de morar sozinha – meus amigos sabem muito bem o que isso significa para mim. Um grande desejo que foi realizado com sucesso!

Junto com a conquista do meu espaço, abri a porta da minha casa e da minha vida para esses dois seres pequenos que fazem miau e que já amo tanto: Clicquot e Trigo. Não sei mais como seria o meu dia-a-dia sem os miados, os “rrrrrrrrr” deles quando estão felizes e aquele bando de pelo por toda parte. Se meu alergista ler isso, com certeza vai vir me explicar de novo todos os malefícios provocado pelos felinos... Já disse que não se pode falar mal de família!
Por falar em alergia, foi neste ano que resolvi também tomar vergonha na cara e cuidar dos "ites" que sempre assombraram minha vida, uns mais e outros menos. Comecei um tratamento de dois anos para controlar a sinusite, a rinite e a bronquite. Também abandonei a vida de dietas milagrosas e malucas para iniciar um programa sério com uma endocrinologista!

Este ano também foi ótimo para o coração: a convivência com o André foi e tem sido gostosa, verdadeira... E um aprendizado também – sobre mim, sobre ele, sobre nós... As afinidades são muitas, mas as diferenças também e às vezes dá vontade de voar no pescoço dele (tenho certeza que a recíproca é verdadeira) ... Mas o que vale é o sentimento e a vontade de ficar junto e de ficar bem... AMO VOCÊ!

Em relação aos meus amigos, como sempre não tenho o que reclamar: eles estão sempre ao meu lado, mesmo que distantes geograficamente, ou longe do convívio diário devido à correria de todos nós... O elo só se fortalece e é MUITO BOM saber que posso contar com eles e eles comigo...

No campo profissional, apesar da constante sensação de ausência de foco, fiz importantes conquistas também. Acho que consolidei "meu lugar" no trabalho e obtive reconhecimento por isso. Expandi também minhas atividades e tratei de arranjar uma forma de “tirar casquinha” do mundo da reportagem que sempre despertou tanto “tesão” em mim e o qual decidi “abandonar” (não assinei um contrato permanente) por querer valorizar outras coisas...

Não poderia deixar de citar uma decisão importante que tomei este ano também: após seis anos e meio de terapia, resolvi suspender o divã e ver se consigo andar com minhas próprias pernas, visto que já conheço como funciona o mecanismo. Não vou mentir: ô tarefinha difícil esta de tentar me entender e entender este mundo louco que nos cerca... Mas estou sempre tentando, desistir nunca!

Para 2008, quero fazer planos mais audaciosos para a minha carreira e começar a colocar a semente na terra. Mas, acima de tudo, QUERO CONSOLIDAR E FORTALECER TUDO O QUE RELATEI ANTERIORMENTE SOBRE 2007.
Quero ler mais, me exercitar mais, trabalhar mais, dormir mais, namorar mais, cozinhar mais, viajar mais, passear mais, amar mais, ir mais ao cinema... Nossa! Já cansei! :)

Desejo continuar regando o que plantei, atenta às pessoas e coisas que são importantes para mim – incluindo aqui os meus filhos felinos. Meu foco maior continuará sendo a chamada “paz de espírito”, ou qualquer nome que você queira dar para essa quietude interior desprovida de ansiedades excessivas e angústias.

quarta-feira, dezembro 26

Impaciência

“Paciência é uma virtude de manter um controle emocional equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo. Consiste basicamente de tolerância a erros ou fatos indesejados. É a capacidade de suportar incômodos e dificuldades de toda ordem, de qualquer hora ou em qualquer lugar.”

Eis a definição que está no wikipedia...

O que tira a minha paciência pode não ser o que tira a sua. O que te irrita não necessariamente me irrita e assim vai...

Nunca tive paciência para esperar o interminável. Acredito que os relógios e os horários não foram criados à toa. São referências que servem para organizarmos o nosso tempo, cada vez mais escasso e apertado. Se me prontifico a encontrar com você em uma determinada hora, sei que algum atraso já está incluído no acordo – ALGUM atraso... Da mesma forma, novos acordos ou adaptações ao que foi programado inicialmente é mais do que normal...

Para quem atrasa sempre e leva a vida num ritmo desprovido de qualquer interferência externa, a impaciência deve ser algum E.T. de Varginha ou um “absurdo”, um “descontrole totalmente dispensável”.... Mas, acredite: para quem gosta de chegar na hora e se programa para isso, o contato com o atraso eterno é angustiante, uma constante impressão de perda de tempo.

Minha impaciência está acumulada. Seu cartão de fidelidade engordou três pontos nos últimos dias.

terça-feira, dezembro 18

Um rápido comentário sobre "Inland Empire"


“As ações têm conseqüências”; Hollywood vende um ideal de felicidade totalmente falso; o conceito de "ontem", "hoje" e "amanhã" é confuso mesmo; a mulher de cabelo preto chora ao olhar a imagem chuviscada na TV, porque queria ser loira e queria ser uma estrela de cinema como a protagonista; todas aquelas mulheres que aparecem repentinamente para a loira são, na verdade, a sua consciência (ou até o seu ego e superego) e os coelhos... Os coelhos... Bem, aqueles coelhos...

Tá. Não sei. Como já li que o David Lynch tem um filme chamado “Rabbit”, pode ser que seja uma referência.

Depois de ver “Cidade dos Sonhos” e constatar que, de fato, há uma coerência e uma história, apesar de muita gente dizer que não, me empolguei e achei que seria capaz de brincar de desvendar “Inland Empire”.

Vou até assistir a outros filmes de Lynch para mergulhar mais nesse seu mundo louco e tentar entender o que se passa naquela cabeça criativa, mas o fato é que “Inland Empire” dá um nó na nossa mente. São muitas imagens desconexas seguidas, muito sons, muito vermelho e azul, muita sombra...

Mas, mesmo assim, para quem gosta de testar e exercitar o próprio cérebro, é um exercício e tanto! Saí do cinema certa de que minha explicação simples e objetiva é a correta:

O filme, na verdade, é sobre a frustração da morena que sempre aparece chorando à frente da televisão. Ela sofre, porque engravidou e seu amante/namorado rejeitou o filho e terminou a relação – e, para piorar, o cara ainda era casado. Como vive uma vida de frustração e solidão, ela se distrai e fantasia com base nos filmes de Hollywood. O longa-metragem, dessa forma, é sobre os devaneios da morena... Ela se vê na loira atriz que é escalada para o tal filme polonês amaldiçoado e é na cabeça dela que a protagonista acaba misturando o seu papel no cinema com a realidade e se apaixonando “de verdade” pelo ator. Tanto é que, no final, aquela japonesa sentada no meio da rua, próxima ao mendigo, menciona uma “morena que usava uma peruca loira”...

Ok! Ainda não desvendei todos os detalhes... Pretendo encarar mais 3 horas de filme para fazer isso.. Um dia!

quinta-feira, dezembro 6

Que preguiça é esta?

Sabe aqueles dias em que você tem muita coisa para fazer, tudo acumulado, mas a vontade de ficar “vagando” por aí é grande?

Confesso: ando muito dispersa, desde que voltei da viagem ao Peru. Com preguiça mesmo. Disseram-me que o clima de “fim de ano” faz isso com as pessoas. Pode ser. Acho que também o fato de ter ficado uma semaninha com aquela “bota robocop” no pé (torci no segundo dia de viagem) contribuiu para o cenário.

Tenho muito trabalho no trabalho, em casa tenho trabalho extra também, mas tudo o que quero mesmo é me jogar no sofá para ver a segunda temporada de “Without a Trace”, série que “descobri” há pouco tempo. Sei, sei que é tempo desperdiçado, que não vou aprender nada com isso... Mas... Eu quero!!!! Além disso, Clicquot adora quando eu respeito essa minha vontade – ele garante a “cama” (leia-se: minha barriga) para deitar.

Hoje, levei a dupla dinâmica para tomar banho na Pet e amanhã volto lá com o pirralho que está cheio de “pereba” na pele. Ser mãe é isso! Dar carinho, levar ao médico e colocar comida e água no potinho. Ai... Preciso marcar minha consulta médica para terminar o processo de renovação da carteira de motorista, tenho cinco fitas para decupar, tenho uma matéria para apurar e escrever, além de mais uma lista de afazeres... Mas e o “Without a Trace”?
Não, não fiz a fisioterapia que o ortopedista mandou (não fiz nenhuma sessão) ; não, não terminei de lavar as roupas; não, ainda não fui na manicure. Mas já comprei o presente do amigo oculto de amanhã! Tá! Ainda tenho que comprar presente para mais dois amigos ocultos (tudo do trabalho) e fazer a lista de presentinhos que darei neste Natal...

Estou com saudades das minhas amigas... Bocó, Lunne que está na Inglaterra, Vivi, Carlinha, Gel... Pelo menos, hoje vou matar a saudade de outro time: Carol, Simone e Vanessa. OBA!!!!!

Ah! Se você leu o post anterior e se assustou, fique tranqüilo (a)! Foi apenas um desabafo movido por “irritações” momentâneas... :) Nem tudo que a gente escreve no calor das emoções é verdade!

terça-feira, dezembro 4

Resolução para 2008 antecipada. Eu me rendo.



OK. Decreto hoje, dia 4 de dezembro de 2007, minha rendição. Está mesmo na hora de crescer e largar o ursinho de pelúcia que fica na cama. Tornarei o meu sarcasmo habitual, que sempre cultivei mais por hobby e por exercício mental, a minha filosofia de vida.

Chega de acreditar no sentimento puro, no amor verdadeiro, na duração intensa e sincera mesmo que temporária de um relacionamento. Opto a partir deste exato momento por destacar os sinais de que isso tudo é invenção de livro infantil. Celebremos o desejo carnal, os contatos frívolos, a fugacidade da vida e a intelectualidade moderna que contesta todos os “ismos” e “monos”. NÃO EXISTE MONO! TUDO É POLI E PLURI!

Vou me colocar acima de todos, sem me preocupar em ter cuidado com o sentimento alheio – afinal, o que vale realmente é o que EU penso e sinto, não é mesmo!? Ah! E quem sou eu para ter algum controle sobre o resultado? Agindo assim, lavo as minhas mãos e decreto a minha total impotência diante deste mundo sombrio e egoísta que habitamos. “Só estou sendo eu mesma”, direi a todos que se puserem no meu caminho. E se algo sair como eu não queria, basta olhar para o lado. Objetos de desejo aparecem e desaparecem ao sabor do vento.

Viva as pessoas que prezam pelos prazeres momentâneos! Viva as possibilidades infinitas que estão por aí! Usarei o meu radar jornalístico para estar sempre atenta, para não perder essas oportunidades... Ouvi dizer que é fundamental manter uma visão “macro” de tudo. Quero isso! A solidão serve para aqueles que não têm essa percepção abrangente de vida, porque, se existem tantas pessoas no mundo que podem nos fazer felizes, mesmo que por três minutos, não há como ficar sozinho!!! E limitar todo o seu campo a uma única opção é tolo. Medíocre. Pequeno. Atrasado. Insensato. Só mostra que você não é um ser evoluído.

O reducionismo é pobre e estamos cercados somente de convenções e padrões. Tudo que foge a essa premissa não merece atenção. O coração é apenas um músculo e as idéias valem mais do que tudo, mesmo que essas não sejam postas em prática. Mais uma vez: o que vale é falar, debater, destrinchar, insistir, esmiuçar, revirar, pisotear, decifrar, contestar, duvidar, mexer, remexer, exercitar, machucar, colidir, chocar, testar, confrontar! Instigue o outro a colecionar pontos de interrogação, isso é saudável! Viva a sinceridade mais desprovida de qualquer compaixão ou preocupação referente ao ouvido do receptor!!!!

Escolho o infinito, porque tudo é fulgás. Não existe “certo” ou “incerto”. Tudo são versões de coisa alguma. Elos e laços afetivos são amarras falsas, porque o instinto é o que sempre sobrevive. Mesmo que a gente tenha que chamar de "instinto" o que é planejado e premeditado.

quinta-feira, novembro 29

Uma viagem a outra cultura...


Elas não cansam de nos abordar. Insistem e persistem na tarefa de nos vender um ovo todo pintado, uma escultura, um chale. Como os produtos expostos por cada uma são exatamente iguais aos da concorrência que mora ao lado, ganha quem for mais persuasiva ou quem tiver o poder de cansar ou de deixar o potencial comprador mais sem graça. Se você decide negociar o preço, aí é que o diálogo é interminável. Se depender delas, a compra será realizada de qualquer jeito.

Se você pergunta para essas mulheres se são felizes, a resposta é afirmativa, mas você fica com a impressão de que, na verdade, aquele ato de sacudir a cabeça para cima e para baixo é apenas automático. No fundo, não sabem o que você está querendo dizer com o conceito de “felicidade”.

Enquanto isso, nas costas das artesãs/vendedoras, moram aqueles “filhotinhos de inca”: bebês e criancinhas de bochechas vermelhas devido à exposição ao frio, quase todos com aquele nariz escorrendo ou com a meleca já endurecida. Passam o dia inteiro presos às mães por intermédio daquelas mantas – acredito até que devam fazer xixi por lá mesmo. É uma pena saber que deixarão de ser fofos com o passar dos anos...

As crianças já mais crescidas vestem roupas típicas e passam o dia segurando ovelhinhas ou ao lado de llamas para ajudar suas mães na constante tarefa de obter soles (moeda local) dos turistas: elas se oferecem para tirar fotos em troca de umas moedas.

O povo peruano é simpático, alegre e vive praticamente para o turismo em um país que, definitivamente, não está acompanhando a evolução tecnológica do século XXI. Os habitantes que conseguem a oportunidade de estudar passam de quatro a cinco anos na faculdade para aprender cada detalhe sobre a história dos incas. Esse é o caminho para se tornar um guia turístico.

Não estou querendo dizer que são desconectados do mundo! Claro que é possível encontrar cafés com internet em Cusco, na capital inca, ou em Águas Calientes, que dá acesso a Machu Picchu. Na ilha Taquile, situada na cidade de Puno e onde moram apenas 2.500 pessoas, muitos consomem Coca-Cola – esse é um hábito estranho de se ver, porque os nativos, ao mesmo tempo, conservam tradições como a de usar acessórios e roupas que indicam, por exemplo, quem é solteiro ou casado. Além disso, a população segue regras conservadoras como a que proíbe qualquer um que não nasceu na ilha de exercer nela qualquer tipo de atividade, mesmo que seja para a sua própria sobrevivência.

Se você faz uma visita ao Mercado Central de Cusco, o impacto é muito grande. Nessa espécie de “Cobal peruana”, encontra-se desde mais de dez tipos de batata, milho roxo, até... cabeças de ovelha, galinhas penduradas, cuys (um bichinho pequeno e fofo), alpacas, etc – tudo exposto nas bancadas, sem a menor higiene, enquanto os filhotinhos de inca brincam ali perto, próximo às poças de sangue desses animais já secas no chão. Não sou nem um pouco fresca, mas a cena depois de um tempo acabou me enjoando. Não foi a imagem dos bichos mortos em si, mas todo o cenário: uma realidade que realmente me chocou.

Esqueci de falar do trânsito: não existem regras. Preferência? O que é isso? Vence quem for mais rápido e corajoso. A ordem é buzinar, buzinar, buzinar e fazer o que quiser. Não é à toa que passei grande parte do tempo que fiquei dentro de táxis com os olhos fechados. Sem falar que a frota de veículos do país deve ter sido adquirida antes dos incas pensarem em existir...



Mais do que conhecer os vestígios do império inca e sofrer com o soroche, ao viajar para a alta altitude de Cusco, Machu Picchu e Puno, você ganha a chance de ver que existe muito, mas muito mais, nesse mundo do que essa vidinha ocidental e confortável que a gente vive.

Por trás da ignorância desse povo, resultante da falta de acesso à educação, existe uma história que vem sendo estendida e preservada, que dá as costas para qualquer debate sobre inovação, economia de mercado, ou aquecimento global. A impressão que dá é que essas pessoas só querem manter seu direito de continuar no mesmo lugar, produzindo suas chompas de alpaca, se reproduzindo e juntando dinheiro para se alimentar.

Os diversos sorrisos que obtive deles nesses oito dias que fiquei lá me incomodaram. Isso porque fui obrigada a sair da minha zona de conforto para refletir. “Como eles conseguem ser tão simpáticos com essa vida que levam?”, me perguntei diversas vezes. Acabei concluindo que estava fazendo a pergunta errada, baseada em suposições pré-conceituais. QUEM DISSE QUE A VIDA QUE A GENTE LEVA É MELHOR?

(Vou postar dicas de viagem para esses locais que visitei... Aguardem!)

domingo, novembro 11

quarta-feira, outubro 24

A Semente da Vitória


Tenho que tirar o chapéu (não vou falar do menininho de novo não...) ! Sempre tive implicância com livros de auto-ajuda e, por conseqüência com obras cujos títulos parecem ser de auto-ajuda... Mas ultimamente tenho me surpreendido positivamente...

Neste ano, li “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie, um livro da década de 30, mas super atual. Comprei-o contrariada, após a promessa de um professor de que o livro era realmente bom. E é! Mas não quero falar dele hoje...

Ontem, num impulso, entrei na livraria do trabalho e comprei “A Semente da Vitória”, do Nuno Cobra. Lembro de ter assistido à parte de uma palestra dele, no ano passado, em um desses eventos que freqüento, e de ter lido recentemente um artigo dele no Valor, mas nunca me aprofundei muito...

O fato é que comecei a ler o livro ontem à noite e já devorei mais da metade. Foi difícil parar para dormir e só o fiz porque ele mostra como são importantes as nossas horas de sono.

Nuno diz que quem não está doente não necessariamente tem saúde. Uma vida saudável é sinônimo de investimento em três importantes pilares (ordem decrescente de importância):

1- Sono
2- Alimentação
3- Exercícios

A partir desse pressuposto, de uma maneira didática, ele explica o porquê de alguns "conselhos" que lemos e ouvimos diversas vezes – “Durma cerca de oito horas por dia”, “Para emagrecer, é preciso comer em intervalos de, no máximo, três horas”, etc.

O livro chama a atenção para o fato de que “o cérebro é burro”. Por ser apenas um “processador de dados”, o que ele ouve de você é tomado como a mais pura verdade. Daí surge a força das palavras e do pensamento – se sai da cama dizendo que o dia vai ser ruim, o seu cérebro acredita e começa a liberar em seu organismo substâncias que são verdadeiros venenos, que vão te ajudar a ficar mal-humorado, cabisbaixo e, provavelmente, seu dia não será legal. O contrário também é verdadeiro. Parece auto-ajuda? A diferença é que Nuno Cobra ressalta que não adianta apenas ter pensamentos positivos. É PRECISO FAZER.

Sair da zona de conforto da rotina dá trabalho e requer disciplina e determinação. O preparador físico destaca também que movimentar o corpo e se exercitar é o mesmo que aprender a controlar suas emoções e a se sentir mais feliz – corpo e mente teriam conexão direta. Nuno aborda como é difícil adotar novos hábitos em nossas vidas, já que tendemos a nos auto-boicotar.

Ainda não terminei, mas o livro está sendo inspirador! Hoje, às 7h, antes do mundo despencar com esta chuva toda, lá estava eu: pedalando na academia com o “A Semente da Vitória” na minha frente (mas depois larguei o livro e fui correr, tá!?) !

terça-feira, outubro 23

Esta é engraçada...



Olha a cara de irritado do menininho inglês... A legenda é "eu só queria ser o Harry Potter". Na tentativa de se tornar o bruxinho da moda, Charlie, de três anos, não pensou duas vezes e colocou um cone de trânsito na cabeça. Só que não estava em seu script que o "chapéu" ficaria preso. A mãe do aprendiz de feiticeiro teve que chamar os bombeiros e foram precisos três homens para tirar o cone...

Acabei de ler esta matéria, que saiu no Daily Mail (e foi reproduzida pelo Globo Online), e um riso foi inevitável... Fez um contraponto com as notícias lidas anteriormente...

Simplesmente é difícil começar o dia de bom-humor neste país:

Hospitais empregam furadeiras em cirurgia” e “Leite adulterado com soda leva PF a prender 27”. Eis as manchetes do jornal O Globo desta terça-feira.

Por falta de equipamentos próprios, neurocirurgiões de quatro hospitais estaduais (do Rio) estão utilizando furadeiras de marcenaria para abrir cérebros e ainda reutilizam “brocas descartáveis”. Do outro lado da sala de Justiça, a Polícia Federal descobriu que cooperativas de Minas Gerais estavam adulterando leite longa vida com... soda cáustica e água oxigenada...

O que fazer num país como este?

segunda-feira, outubro 22

Búzios!!!!!!!


Finalmente peguei sol!!!!! Tirei o branco cor de Omo que estava em mim! E olha que a previsão era de chuva e mais chuva...

Fui para Búzios neste fim de semana, com o André e o pai dele (foi o encontro da turma de engenheiros que se formaram juntos há mais de 30 anos). Foi divertido! O povo era bem animado, teve feijoada...

A pousada que o André arranjou para ficarmos era... mais ou menos. “Surf Geribá”. Cheiro de mofo, lençóis encardidos e com umas manchas “estranhas” (nem quero pensar...) ... Também! Pagamos apenas R$ 40 (os dois juntos) pela diária... O que estávamos esperando???

Hummm.... Delícia foi o Degusta Búzios, festival de degustação que estava rolando na Rua das Pedras... Provei uma sardinha “semi-defumada”, com um pãozinho feito de missô e molho de tomate que estava tudo de bom!!!! O show de rock no shopping número 1 também estava muito bom!!!!

No domingo, acordamos e fomos direto para a praia, após um “fantástico” café da manhã na pousada (putz... sem comentários...). André surfou e eu curti o sol, feliz e contente com meu livro e meu jornal... Depois disso, houve uma pequena pausa no cenário feliz para um desentendimento... Mas, faz parte. Contornamos a situação.

Na volta de Búzios, parecia, como disse o André, que estávamos em um “BMW”. Voltamos assistindo a “Without a Trace” no notebook! Chique, não!? :)

quinta-feira, outubro 18

Lar, doce lar!




Ando tão caseira... É a conseqüência de se morar sozinha.. Pela primeira vez reconheço a existência de um “lar”.

Para mim, a palavra significa um porto seguro, um lugar cultivado por nós, um reduto para a reflexão, o descanso, a leitura concentrada, o filme... Um espaço onde posso cozinhar e fazer bagunça à vontade, mas um local que prezo tanto a ponto de querer mantê-lo arrumado... A MINHA casa. Nela, encontro paz e uma “tomada” na qual posso ligar o meu recarregador de energias...

Não posso esquecer dos meus dois filhos queridos que fazem miau...

Isso definitivamente não tem preço. Mesmo que eu não goste nem um pouco de ter que separar roupas por cor para lavá-las na máquina... (risos)

No meu lar, só entra quem eu quero, na hora que eu quero. Delícia de controle e de autoritarismo...

Já me peguei me perguntando se minha vida social não anda muito parada... Mas toda vez que me questiono sobre isso, me respondo também que sempre fui de sair muito porque não tinha justamente o meu porto seguro. A segurança era estar rodeada de pessoas. Agora, não preciso mais. Estou recuperando o tempo perdido!

quarta-feira, outubro 10

Só VOCÊ pode cuidar de você

Acordei meio assim, assim... Ainda por conta de segunda-feira.

Na verdade, diante de reações intensas, sejam nossas ou alheias, vale a tentativa de analisá-las – sempre há motivos concretos por trás...

Ouvi ontem que o problema é a expectativa, a minha expectativa.

Não sei com os outros, mas comigo a expectativa surge como continuação de bons momentos, de experiências gostosas que dão um gosto de “quero mais”. Caso contrário, seria masoquismo, não!?

Quando não tenho expectativa, é porque não dou muito valor e estou mais para “a gente vê, tanto faz.” É possível estar envolvido e NÃO criar expectativas? E aqui falo de expectativas em relação a questões corriqueiras, nada de especial ou grande.

Tendo a me “doar” muito e invisto quando acho que vale a pena. Mas às vezes as respostas e os discursos são tão racionais, salpicados com uma certa frieza, que me pergunto se ajo corretamente. Quando digo “corretamente” me refiro ao que é “bom” para mim.

Da mesma forma, percebo uma confusão de papéis. Talvez, por erro meu. É a tal da individualidade, constantemente citada, que não vem sendo notada. A MINHA. E, nesse caso, ponto negativo para mim.

Um dos meus defeitos é ter uma energia e uma disposição muito grande para entender os outros. Estou sempre tentando enxergar um contexto sob o ponto de vista do outro, tentando me colocar no lugar do outro. Enquanto isso, vou apelidando as minhas vontades e anseios de “caprichos”. Costumo dizer para mim mesma “você não está sendo razoável. Olha o que outro está passando.”

E o que acontece? Um belo dia estouro, quando vejo que o que quero está ficando para escanteio...

Minha psicóloga costumava dizer: “Ok. Você entende o outro. Mas... Quando é que os outros vão começar a entender você???”

terça-feira, outubro 9

Não gosto de reações extremadas, principalmente provenientes de minha pessoa. Dá ressaca, causa vergonha. Mesmo que eu entenda sua origem... Mas o que posso fazer? Reconhecer que sou humana e que, às vezes, simplesmente "sai"...

Já corri na academia hoje de manhã e vou voltar à noite para repetir a dose...

Não sorrio o tempo todo, não sou compreensiva o tempo inteiro, não digo "por favor" e "obrigada" sempre. Acordo descabelada, com o rosto "amarrotado" e posso ser insuportável...

Pronto! Falei!

sexta-feira, setembro 28

Conhece o meu lado sério?

Tenho uma novidade para os meus 2,34243566 leitores (estou sendo otimista):

Criei um blog para falar de coisas sérias! Lá não haverá espaço para eu abordar os meus conflitos internos e as minhas paranóias...

Vai lá marcar presença!? Ah! E deixa um comentário??? :)

O endereço é: visoeseinversoes.blogspot.com

Beijos!

quarta-feira, setembro 5

Desconexão

Reformulações, indagações a cerca de futuro próximo, especulações sobre qual é a parte que inclui o meu livre-arbítrio, como não danificar essa parte com meus pensamentos, de que forma fazer as coisas diferentes, com que jeito deixar alguns aspectos como estão, de que maneira aproveitar a parte boa de tudo e "engolir" ou aceitar ou take for granted a parte que não é tão agradável, como escurecer o lado mais fulgás que há em mim e qual caminho seguir para justamente não fazer isso pois o momento não pode ser desperdiçado, reflexões sobre o que quero mudar em mim e no mundo a minha volta, insistência em deixar a coisa rolar pois não tenho controle sobre este mundo enlouquecido em que me encontro, curtir esse meu lado impulsivo e compreender que há também em minha pessoa uma necessidade de contextualizar o que vivo e ter uma opinião a respeito, saber que minha auto-defesa está aí e ela é real e muitas vezes me salva de poucas e boas, perceber que não tenho mais 18 anos mesmo e que por isso estou muito melhor, mas que isso não significa saber para onde estou indo...
Enfim... Aceitar quem eu sou: uma menina moleca de 28 anos que se entrega às coisas boas que surgem, mas sem esquecer que tem um mecanismo protetor acionável a qualquer instante, altamente desenvolvido pós ultra-super reconhecimento de terreno interno consolidado e aprofundado no ano passado, por intermédio de um processo doloroso, mas construtivo.
Depois de seis anos e meio de análise, cá estou eu de férias! Deu para perceber que estou sem um coach????

quinta-feira, julho 12

Preciso de FOCO...

Fui acusada de não deixar o meu pensamento fluir nos meus textos do blog. “Seus textos são muito...jornalísticos.” Ok. Confesso que sou muito evasiva aqui, que não dou nome aos bois, que não sou direta na minha escrita (e, cá para nós, um texto jornalístico tem como objetivo ser tudo menos evasivo). Mas não é por acaso! Quem convive comigo consegue perfeitamente ler nas “entrelinhas” e, quando não consegue, me pergunta. Já aqueles que não tem tanto contato acabam ficando com uma leve curiosidade... E isso é bom! Sinal de que as chances são grandes de retorno ao blog...

Mudando de assunto...Minha vida tem sido repleta de fatos novos, rodeados por manias antigas. Os dias têm passado muito rapidamente e eu me sinto um pouco “perdida”, até atropelada pelo tempo. É como se a minha velocidade para tomar decisões, efetuar mudanças e refletir estivesse muito, mas muito aquém do ritmo do universo. Se no passado a minha angústia era proveniente da necessidade vital de se fazer planos constantemente, agora me pego querendo pelo menos estabelecer alguma meta a médio prazo. E é aí que me pego meio “sem rumo”.

Estou precisando de um objetivo PROFISSIONAL. Hoje acordei me achando uma peça de lego no jogo errado. Os dias são exatamente iguais aos outros. E não falo a mesma língua que muita gente ao meu redor.

Ao mesmo tempo, queria adotar um pouco o “estilo baiano de ser” e não pensar em nada. Estirar-me num sofá (nem precisa ser rede), brincar com os meus gatos e contemplar a vida desprovida de qualquer pressa...

Ok. Estou sendo um pouco exigente comigo mesma. Afinal, minha vida mudou muito nos últimos três meses. Mas o que posso fazer se sou um ser essencialmente inquieto?

São tantos os livros ainda não lidos, os filmes ainda não vistos... E a sensação é a mesma em relação à minha carreira: tantas coisas que ainda não fiz... Só que falta definir o que eu QUERO fazer para depois traçar um plano de ação. Vejo possibilidades, mas são todas muito remotas, já que eu não consigo encontrar um FOCO. Estou que nem o Ricardo Semler: perguntando “Por quê?” umas cinco vezes a cada dez minutos...

sexta-feira, junho 8

Diga a verdade e saia correndo!

Essa é uma frase que está num imã de geladeira que comprei aqui para casa. A identificação foi instantânea. É difícil me abrir, falar o que penso, ou sinto, às vezes. É difícil também ser ouvinte. Mas o mais difícil ainda é saber o momento que pede uma "confissão" e o momento de deixar o silêncio falar por si. As palavras ecoam e são eternas. Por isso, é importante ter cuidado com o que se diz. Pode-se dizer o oposto logo depois, ou mesmo demonstrar o inverso... Mas o que fazer com o que já se ouviu?

Ou o que se faz é sempre mais importante e anula o que se diz? Sou contra expressar sempre em palavras tudo que se pensa ou que se sente. Temos pensamentos e sentimentos efêmeros, momentâneos que podem virar poeira um instante depois. E se os mesmos, ao serem traduzidos em linguagem falada, têm o poder de incomodar, entristecer ou machucar o receptor, por que expressá-los? Se for importante e essencial para o emissor, então ele deve ir em frente. Mas com a consciência dos possíveis efeitos sobre o outro.

Já tentei provocar com perguntas e indagações uma mudança, na verdade, um resgate de algo que estava ficando para trás. Tentava me agarrar nas palavras, para ver se elas tinham a capacidade de mudar a realidade que eu estava presenciando. E o que eu recebia como resposta era só a confirmação de imutabilidade. Agora, depois de alguns anos, ao lembrar desse momento, vejo que fui boba. Se eu recebesse palavras doces contrárias ao que, de fato, estava acontecendo, teria eu me sentido melhor? Nesse sentido, o que se fala pode ser irrelevante. Ponto para o silêncio.

É por isso que tenho dificuldade em “dizer coisas”. Parece que, ao fazê-lo, estou “oficializando” reflexões e emoções que posso não ter cinco minutos depois. Digo isso, porque presto atenção e valorizo o que me falam. O pior é que, normalmente, o que me marca é o que não gostei de ouvir.

Mas aí me ocorre outra questão importante: E o filtro que usamos sempre ao adotarmos a postura de receptores de uma mensagem? É que nem reportagem isenta: não existe a prática de ouvir sem a nossa participação na compreensão dessa mensagem. Nunca escutou a frase “fulano só ouve o que quer?” Será que é só o fulano mesmo, ou todos nós, querendo ou não, interpretamos absolutamente tudo que chega a nossos ouvidos?

Ok. Não dá para viver num filme de Charles Chaplin. Palavras são necessárias, contornam e ressaltam nossas ações, sentimentos, etc, etc, etc. Mas então é preciso ter coerência, não!? Só que muitas vezes afirmamos uma coisa querendo dizer outra... por educação, por não querermos machucar o outro, por proteção individual e tantos outros motivos. Não é difícil???

Um imã de geladeira me deixou filosófica...


segunda-feira, maio 21

Vida Nova


Estou prestes a completar meu primeiro mês morando definitivamente sozinha, ainda nem aprendi direito a lavar minha própria roupa e... arranjei um FILHO! Um persa cinza de olhos verdes/cinzas lindo! O nome dele é Clicquot, de Veuve Clicquot, mas nem sei se continuará sendo... Não estou gostando muito dessa alcunha não...

Na última semana, fiquei cuidando de dois gatos, um pequeno que mia e um grande que fala. Os dois estavam passando mal, com o mesmo problema. Fui enfermeira dupla e deu tudo certo!

Apesar das mudanças e novidades, venho me dedicando a pensar em um monte de coisas e a não refletir também sobre nada. Entendeu o que eu disse? Venho trabalhando a “não-ansiedade” e a “não-imaginação”. É a forma que arranjei de não ceder à tentação do radicalismo. Minha meta a curto e a médio prazo é o “caminho do meio” (leia “A Alma Imortal”, de Nilton Bonder, para entender o que estou falando).

Por outro lado, nunca tive tanta vontade de ser sincera e de assumir o que estou sentindo, quais são minhas emoções e quem sou eu (mesmo que eu não saiba exatamente o que isso quer dizer). Simplesmente não estou sentindo vergonha alguma de falar. Mesmo que contrarie o ouvinte. Dane-se. Prazer! Eu sou assim! Vai continuar gostando de mim?
(...)

Bom filme o “Lady Vingança”, do diretor Park Chan-Wook, o mesmo de “Old Boy”. Mas é muito pesado!!!!!!!!! Quem não gosta de cenas fortes, não deve assistir. Ah! E um conselho: não assista num domingo à noite, como eu fiz. Passei a noite inteira sonhando que estava assassinando uma coreana.

quarta-feira, maio 9

Por partes:

Morar sozinha, grande conquista!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Para variar: constação de caminho errado tomado, ou, ok, como ouvi esta semana de uma especialista: rumo certo no momento certo, porém perene. É preciso desviar novamente para se alcançar um objetivo satisfatório...

terça-feira, abril 24

O QUE SE DIZ x O QUE SE FAZ

A diferença entre o que se diz e o que se faz pode ser grande, BEM grande. Ou não (maldito Caetano) ... Quando se fala muito, o que é apenas suposição ou imaginação ou ainda fantasia pode virar realidade. De um jeito ou de outro... Venho pensando nessa questão nos últimos dias...

DESDE QUANDO SINCERIDADE TOTAL É SINÔNIMO DE MATURIDADE? Acho que tem muito masoquista por aí confundindo as coisas...

Vou voltar a falar sobre isso. Agora minha concentração está toda voltada para a minha nova vida cuja estréia se dará quinta à noite!!!!

Contagem regressiva!!!!!!!!!!!!!!


sexta-feira, abril 13

Anão anda de ônibus???

- Senhorita, dá licença. Deixa eu lhe fazer uma pergunta, me abordou um senhor ainda na roleta.
- Você já viu algum anão no ônibus?
- Hummm... Não...
- Pois é. Estou desenvolvendo uma teoria: todo anão anda a pé.

Esse episódio aconteceu comigo outro dia. Mas a melhor é a história que ouvi:

A mãe de um colega de trabalho estava em um ônibus, quando entrou um baixinho, que não encontrou lugar para sentar.

- Ei, menino! Senta aqui no meu colo!

Quando o sujeito já se preparava para acatar o convite, um outro "baixinho" entrou.

- Senhora! Não deixa não! Ele não é criança! É anão!

O já desmascarado adulto acabou levando um tapa...

Tá vendo? Mas eu realmente nunca vi um anão em ônibus!

domingo, abril 8

A tristeza permitida

Este é um texto de Martha Medeiros, de 20/11/2005:

Se eu disser para você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai me dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela sempre que fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou com si mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

(..) Pega mal sofrer. Pois é, pega. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o eu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar uns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos para samba, para rock, para hip hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

quinta-feira, abril 5

"Falas de civilização, e de não dever ser, ou de não dever ser assim. Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos, com as coisas humanas postas desta maneira. Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos. Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor. Escuto sem te ouvir. Para que te quereria eu ouvir? Ouvindo-te nada ficaria sabendo. Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.

Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres. Ai de ti e de todos que levam a vida a querer inventar a máquina de fazer felicidade!"

(Fernando Pessoa)
O que você faria se achasse alguém que ainda não se encontrou? O que você faria se perdesse quem te encontrou?

Ter só uma lembrança de que alguém um certo dia te marcou Ser só uma lembrança de alguém que te marcou.

O que você faria se achasse alguém que fantasmas não libertou? O que você faria se perdesse quem te libertou?

(Clarice Lispector)

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Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.Dorme inconsciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

(Fernando Pessoa)

***********************************
Tudo o que vemos é outra coisa.
A maré vasta, a maré ansiosa,
É o eco de outra maré que está
Onde é real o mundo que há.
Tudo o que temos é esquecimento.
A noite fria, o passar do vento,
São sombras de mãos, cujos gestos são
A ilusão madre desta ilusão.

(...)

Tudo é permanentemente estranho, mesmamente
Descomunal, no pensamento fundo;
Tudo é mistério, tudo é transcendente
Na sua complexidade enorme:
Um raciocínio visionado e exterior,
Uma ordeira misteriosidade
Silêncio interior cheio de som.

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, março 28

Se lessem meus pensamentos...

Acordei ácida, ácida hoje... Ou melhor, má mesmo...
Eram umas 8h40 quando entrei no ônibus, no ponto final que fica exatamente em frente ao meu prédio. Já saí de casa reclamando do calor e fui mentalmente condenando-o no caminho até o veículo (é, eu sofro de menopausa precoce. Quando todos estão achando o clima "fresquinho", eu estou me abanando e, quando o mundo diz que está quente, é sinal de que já estou quase sumindo de tanto derreter).
Não estava com a mínima vontade de conversar, apenas de ler o jornal. Assim que abri o Segundo Caderno, do O Globo, ouvi: "É O Globo, é? Sabe que não consigo ler O Globo?" Como só estávamos no ônibus, ainda parado, eu e a cobradora, a pergunta com certeza era dirigida à minha pessoa. Na mesma hora, me veio um comentário na ponta da língua "E você lê?" Horrível, não!? Eu sei. Por isso, só pensei e me limitei a dar aquele sorriso que a gente abre apenas com um tímido movimento dos lábios.
Quando estávamos no meio da Nossa Senhora de Copacabana, parados na faixa do meio da avenida, no sinal, surge uma senhora, do nada, batendo na porta para o motorista abrir. Ao entrar, ela recebeu do condutor uma bronca, de forma educada, por estar no meio da rua. Corretíssimo. Ponto para ele. Mas parece que a tal senhora passou pela roleta pedindo à já minha amiga cobradora que esperasse pelo troco, que ela ia sentar para pegar na bolsa...
Sabe o que a cobradora respondeu? "A senhora está atrapalhando a minha vida, não posso ficar sem troco. A senhora já começou bem o dia hoje, hein?" Cheia de atitude... Contei até dez e me lamentei por não ter feito aquela pergunta sobre os hábitos de leitura da minha digníssima "amiga"...
Durante o dia, continuei tendo pensamentos maus, daqueles que a gente não divide com ninguém, ou com quase ninguém... Acho que comprei uns dois ingressos para o inferno hoje com esse meu sarcasmo que às vezes se descontrola. Mas não fui a única. Uma outra pessoa comprou uns cinco ao verbalizar um pensamento desses... Tenho que admitir: me diverti ao saber do episódio!
Ah! E é como uma amiga sempre diz: o que é que vou fazer no céu, se todos os meus amigos estarão no inferno????

segunda-feira, março 26

“Ooh, I get the shivers
I don't want to see a ghost,
It's a sight that I fear most
I'd rather have a piece of toast
And watch the evening news”

(trecho de "Life", da Des´ree)

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Ontem, na ida ao supermercado, de carro, eu tinha acabado de dizer que "família só é ótima para tirar retrato". Menos de um minuto depois, o caixa do estacionamento do lugar me recebe assim: "Boa tarde, seja bem-vinda à família" (ou algo parecido) ... Quem é que manda eles dizerem isso?

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O lema do dia de hoje é FOCO!!!!

sexta-feira, março 23

Escolhas

Eu escolho
Tu escolhes
Nós escolhemos

Fácil conjugar esse verbo. Difícil conjugar esse verbo. Quando a primeira pessoa do plural predomina na frase, é ótimo. Mas é preciso encarar o fato de que, às vezes (ou muitas vezes), as duas primeiras conjugações se fazem presentes e mais fortes.

Não entre em confronto e não lamente. Aceite e curta assumidamente a SUA escolha!

quinta-feira, março 22

Passei as duas últimas horas "fuçando" o blog alheio e tive uma leitura bem interessante... Em uma época de blogs e orkut, nada como ir atrás da informação, mesmo que essa facilidade às vezes possa ser perigosa. Mas, como tudo na vida, você pode escolher se leva a coisa para o lado do bem ou para o do mal. Escolhi a primeira opção. É que tenho este bichinho chamado "curiosidade" difícil de se manter enjaulado.
Esta semana está sendo particularmente tranqüila e pacífica... Vinte e oito anos deliciosamente completados na segunda, transação veicular sendo, finalmente, finalizada e: UMA SEMANA DE PURA E FELIZ SOLIDÃO NO LAR! Nossa, como me faz bem chegar em casa e ouvir o som do silêncio. Sinto-me mais eu, sabe!? Sem cobranças, sem indagações, sem aquele olhar que me segue a cada passo que dou.
Adivinha para onde estou indo agora? Justamente para esse meu porto seguro temporário. Quero aproveitar cada minuto! Inté.

Área de Conforto

Não se acomode. Saia da sua “área de conforto”. Quem faz academia, com certeza já ouviu esse “conselho”. No entanto, outro dia, o vi num desses textos com dicas sobre Gestão – temas como Gerenciamento de Projetos, Gestão Empresarial e de Pessoas, Marketing, etc, fazem parte do meu cotidiano há quase dois anos.

Ao ler a expressão “área de conforto” aplicada em um texto que fala de planejamento pessoal, interrompi o que estava fazendo para refletir um pouco. E continuo a pensar no assunto até agora.

Do período que entrei na faculdade até há cerca de uns três anos, estive muito concentrada na vida profissional. Um deslize, uma falta de sorte ou uma má notícia em termos de trabalho era uma crise existencial. O único mês em que fiquei desempregada na vida, desde que comecei a trabalhar (lembro-me bem foi de agosto a setembro de 2001), se transformou em um verdadeiro inferno astral. Minha paz interior e minha felicidade estavam atreladas à carreira e foram muitos os cursos que fiz, muito tempo dedicado à leitura e ao estudo para a conquista de minhas metas a curto e a médio prazo. Da mesma forma, abri mão de muita coisa pensando na profissão. Cheguei a levar uns “puxões de orelha” de uma amiga minha por conta disso.

Foi justamente essa amiga que, outro dia, ao me ouvir dizer que priorizo hoje muito mais a qualidade de vida, afirmou: “Nossa, Jackie! Que bom saber que você pensa assim”. Mais uma pausa para reflexão. Será que estou fazendo algo de errado? Não.

O fato é que definimos prioridades e essas escolhas são mutáveis e adaptáveis a cada período de nossas vidas. Atualmente, sinto-me um pouco estacionada na minha “área de conforto” profissional e isso está me incomodando um pouco, acho até que por falta de costume. Na verdade, simplesmente direcionei o centro de minha atenção para um projeto pessoal muito maior e que, durante anos e anos, era simplesmente um “plano para o futuro”. Pois. O futuro chegou e me vejo às voltas com questões práticas.

Assim que conquistar esse meu sonho/projeto/plano, voltarei priorizar o profissional. E será muito melhor, pois o farei já contando com o meu “porto seguro”. Nesta época cheia de mensagens como “tenha sucesso”, “ponha em prática suas idéias”, não dá realmente para ficar parado e estagnado. Por isso, já coloquei prazo de validade para a minha área de conforto.

sexta-feira, março 9

"Elimine a causa que o efeito cessa. "(Miguel de Cervantes)

quinta-feira, março 8

Uma aventura inesquecível...

Uma noite de sábado singular. O que você estava fazendo no sábado seguinte ao Carnaval? Curando sua ressaca? Descansando? Bebendo todas num bar ou numa boate?

EU ESTAVA ESCONDIDA NO MEIO DO MATO ESPERANDO 50 OVELHAS SEREM ENLAÇADAS E ARRASTADAS POR UM RIOZINHO POR PEÕES MONTADOS A CAVALOS...

É que elas têm medo de nós seres humanos. Sério! Não estou brincando! Na sexta, um dia anterior, dirigi uns 40 quilômetros de uma estrada que faz da serrinha que leva à Visconde de Mauá uma verdadeira via asfaltada. Buracos e pedras para todos os lados. Mas não é só isso: cheguei a atravessar um riozinho de carro.

O outro obstáculo foi uma pequena ponte – pequena, porém alta. Meu carrinho sofreu muito para passar por ela e sem esquecer de que havia um leve risco do veículo ir parar no rio, caso eu bobeasse na direção. Já estava anoitecendo, quando joguei a toalha e aceitei o fato de que não daria para passar com o carro em um determinado trecho, repleto de galhos, pedras e buracos.

Saí do carro contrariada, já que o deixaria sozinho no meio do nada e a travessia foi retomada a pé, com a ajuda de “Zé Chato”. Frio, apenas a lua e uma pequena lanterna iluminando o caminho e aqueles sons peculiares que fazem parte de um cenário “natural”. Quando eu me perguntava que diabos eu estava fazendo ali, deparo-me com um rio pelo qual só era possível passar “pulando pedras”. Cansada, toda doída da estrada esburacada, mal-humorada e ainda sem a MENOR vontade de brincar de Mario Bros, anunciei que eu não queria continuar o percurso.

Ficamos ali, sei lá, uns 15 ou 20 minutos, parados no MEIO DO NADA, ligando a lanterna de vez em quando, para não gastar a pilha, só para checar se algum bicho se aproximava. Quando finalmente resolvemos onde ficaríamos, tivemos de retornar e passar por alguns obstáculos de novo. Dormimos na casa do caseiro de um chinês que não conhecíamos. É isso mesmo. Uma casa super simples, sem piso, com fogão a lenha. O caseiro e sua esposa nos cederam o colchonete de casal que eles costumam dormir e ficaram com um de solteiro.

Acordei no dia seguinte, no sábado em que me escondi à noite das ovelhas, com galinhas, cabra e os cachorros fazendo uma espécie de reunião matinal. Minha tarde foi repleta de caminhadas no meio do mato, com direito a ter de passar por uma ponte que, na verdade, era um galho grosso de uma árvore que uma ventania derrubou. As pernas tremeram e foi preciso a ajuda do casal anfitrião – enquanto o cachorro nativo ia e vinha da “ponte”, como se debochasse da minha total incapacidade de brincar de aventura.

O fim do mundo está bem próximo de nós cariocas. Não, não estou dizendo que o mundo vai terminar, não é isso. Conheci o local onde Judas perdeu suas botas, tão citadas por aí. E digo: elas devem ter afundado em um daqueles buracos, ou ovelhas e cavalos devem ter passado por cima delas. Ah! Esqueci das cabras. Bom, a escuridão também pode ter contribuído para essa perda. Na verdade, o próprio Judas nunca mais foi encontrado.

quinta-feira, fevereiro 8

Os micos de cada dia...

“Menina, quase não te reconheci com estes óculos. É...Claro. Não te reconheci, porque não te conheço. Desculpe.” Belo diálogo para se começar um dia, no elevador do estacionamento em frente ao trabalho. Esse episódio foi na semana passada.

“Você nunca ficou com ninguém do colégio NO colégio, né!?” Respondi, enfaticamente, com outra pergunta: “Ué, com quem fiquei do colégio FORA do colégio?” A resposta veio com uma velocidade brutal: “Comigo!?” Ops... Eu havia me esquecido do episódio ocorrido em Búzios, há uns cinco anos. O pior é que o diálogo foi presenciado por várias pessoas. Não deu para consertar.

O pior do pior: em 2005, estava eu em uma roda de pessoas ligadas a Relações Internacionais, quando, nem me lembro mais o contexto, comecei a falar mal de um determinado ex-ministro que, uma vez, antes de iniciar uma entrevista coletiva anunciou “pérai, que vou mijar”. Comecei a dizer que esse não era um comportamento adequado para um ministro, que o cara tinha idéias malucas, etc. Foi quando ouvi uma voz: “É o pai dele”. Interrompi o discurso pedindo a Deus que aquela afirmação fosse uma brincadeira. Não era. A única pessoa que eu não conhecia do grupo confirmou: “Ele é meu pai”. Três segundos de silêncio. Tempo para pensar em uma saída – eu não podia ser abduzida naquele momento? Só consegui dizer: “Por falar em xixi, preciso ir ao banheiro”. Sabe quando a gente acorda com muita ressaca e promete nunca mais pôr uma gota de álcool na boca? Pois é. Naquele dia, jurei que me tornaria um ser mais reservado e mais calado. Mas a promessa teve o mesmo destino que as juras sobre abstinência alcoólica: foi enterrada.

O diretor entrou na sala e eu estava dando gargalhadas, sinal de que eu podia estar fazendo tudo menos trabalhando. “Está sorridente, né!? Que felicidade é essa?”, me espetou com um sorriso nos lábios. “Sou uma funcionária feliz!”, respondi. Ele pareceu satisfeito com a resposta e saiu rindo.

Outro episódio, com outro diretor, que não deu nem para rir e nem para provocar risos nele: conversávamos sobre o iPod e eu contava sobre os benefícios que esse aparelhinho com uma bola branca no meio trazia para a minha vida. Ele perguntou como se fazia para transferir músicas para o tal “tamagoshi” e eu, enfática, respondi: “ah, é só baixar de graça da internet”. Foi o bastante para o céu ficar nublado de repente. Passei os 20 minutos seguintes ouvindo um sermão e uma análise sobre a pirataria no mundo.

Pelo menos, tenho sempre histórias para contar. É possível treinar para se ter respostas na ponta da língua. Uma dose de sarcasmo e ironia (ainda não consegui entender muito bem a diferença entre os dois) também é útil nessas situações. Aliás, se você é extrovertido, desenvolver seu lado sarcástico é questão de sobrevivência.

“Estou com saudades”, escrevi um dia em um torpedo que enviei. “Ah é, é!?”, recebi de volta, uma típica resposta ambígua, que pode ter dois significados: ou o receptor não estava sentindo o mesmo, ou estava fazendo doce e queria ouvir mais (ah, podia ser uma implicância também). Não pensei duas vezes e rebati: “Não, é mentira!”

quarta-feira, janeiro 24

Um pouco de Clarice para a alma...

"Sim, quero a palavra última que também é tão primeira que já se confunde com a parte intangível do real. Ainda tenho medo de me afastar da lógica porque caio no instintivo e no direto, e no futuro: a invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. (...)"
"(...) Vou crescendo com o dia que ao crescer me mata certa vaga esperança e me obriga a olhar cara a cara o duro sol. A ventania sopra e desarruma os meus papéis. Ouço esse vento de gritos, estertor de pássaro aberto em oblíquo vôo. E eu aqui me obrigo à severidade de uma linguagem tensa, obrigo-me à nudez de um esqueleto branco que está livre de humores. Mas o esqueleto é livre de vida e enquanto vivo me estremeço toda. Não conseguirei a nudez final. E ainda não a quero, ao que parece. (...)"
"(...) Não quero perguntar por quê, pode-se perguntar sempre por que e sempre continuar sem resposta: será que consigo me entregar ao expectante silêncio que se segue a uma pergunta sem resposta? (...)"
"(...) Ouve-me, ouve o silêncio. O que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e no entanto vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão. (...)"
"(...) Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago. Só que aquilo que capto em mim tem, quando está sendo agora transposto em escrita, o desespero das palavras ocuparem mais instantes que um relance de olhar. Mais que um instante, quero o seu fluxo. (...)"
Trechos de "Água Viva", de Clarice Lispector

segunda-feira, janeiro 22

Acostuma-se com a sombra. Dolorosa, mas previsível. Quando os primeiros raios solares finalmente reaparecem, mesmo que tímidos, mas sem aviso prévio, os olhos resistem, é difícil abri-los. Admitir o medo é um ato de coragem. É reconhecer que se é frágil, que se tem um passado que ainda traz lembranças penosas.

Antes da sombra, havia muita escuridão. Breu total. Foi preciso decretar o fim do tempo, concentrar-se apenas no presente, ignorando o passado e negando o futuro. Medo de que o mesmo filme fosse parar de novo no retroprojetor. Seria demais, seria insuportável. Nunca se pode dizer que já sofreu o bastante, afirmar que dor maior não existe.

A sobriedade e o auto-conhecimento têm seu preço. Como eu já disse, consegui deixar o breu. Estava na sombra e agora talvez esteja em contato com o mormaço - digo "talvez", porque posso estar próxima ao sol, mas por medo, estar chamando-o de outro nome. Sigo em frente, mas às vezes me pego querendo imitar um caranguejo - é o costume. A sombra é a linearidade, o "porto seguro". A lembrança da escuridão ainda é forte. Quase sempre me pego negando essa proximidade. Mas uma situação parecida, uma palavra repetida, um contexto familiar me remetem à ela. Quando isso ocorre, tenho o impulso de fugir. De jogar para o alto qualquer reflexão mais apurada sobre o que sinto, ou o que penso. De brincar de estátua.

Admitir o medo é um ato de coragem. É reconhecer que se é frágil, que se tem um passado que ainda traz lembranças penosas. Tocar no centro da ferida já é um ato a mais. Acho que ainda não estou preparada.