quinta-feira, fevereiro 8

Os micos de cada dia...

“Menina, quase não te reconheci com estes óculos. É...Claro. Não te reconheci, porque não te conheço. Desculpe.” Belo diálogo para se começar um dia, no elevador do estacionamento em frente ao trabalho. Esse episódio foi na semana passada.

“Você nunca ficou com ninguém do colégio NO colégio, né!?” Respondi, enfaticamente, com outra pergunta: “Ué, com quem fiquei do colégio FORA do colégio?” A resposta veio com uma velocidade brutal: “Comigo!?” Ops... Eu havia me esquecido do episódio ocorrido em Búzios, há uns cinco anos. O pior é que o diálogo foi presenciado por várias pessoas. Não deu para consertar.

O pior do pior: em 2005, estava eu em uma roda de pessoas ligadas a Relações Internacionais, quando, nem me lembro mais o contexto, comecei a falar mal de um determinado ex-ministro que, uma vez, antes de iniciar uma entrevista coletiva anunciou “pérai, que vou mijar”. Comecei a dizer que esse não era um comportamento adequado para um ministro, que o cara tinha idéias malucas, etc. Foi quando ouvi uma voz: “É o pai dele”. Interrompi o discurso pedindo a Deus que aquela afirmação fosse uma brincadeira. Não era. A única pessoa que eu não conhecia do grupo confirmou: “Ele é meu pai”. Três segundos de silêncio. Tempo para pensar em uma saída – eu não podia ser abduzida naquele momento? Só consegui dizer: “Por falar em xixi, preciso ir ao banheiro”. Sabe quando a gente acorda com muita ressaca e promete nunca mais pôr uma gota de álcool na boca? Pois é. Naquele dia, jurei que me tornaria um ser mais reservado e mais calado. Mas a promessa teve o mesmo destino que as juras sobre abstinência alcoólica: foi enterrada.

O diretor entrou na sala e eu estava dando gargalhadas, sinal de que eu podia estar fazendo tudo menos trabalhando. “Está sorridente, né!? Que felicidade é essa?”, me espetou com um sorriso nos lábios. “Sou uma funcionária feliz!”, respondi. Ele pareceu satisfeito com a resposta e saiu rindo.

Outro episódio, com outro diretor, que não deu nem para rir e nem para provocar risos nele: conversávamos sobre o iPod e eu contava sobre os benefícios que esse aparelhinho com uma bola branca no meio trazia para a minha vida. Ele perguntou como se fazia para transferir músicas para o tal “tamagoshi” e eu, enfática, respondi: “ah, é só baixar de graça da internet”. Foi o bastante para o céu ficar nublado de repente. Passei os 20 minutos seguintes ouvindo um sermão e uma análise sobre a pirataria no mundo.

Pelo menos, tenho sempre histórias para contar. É possível treinar para se ter respostas na ponta da língua. Uma dose de sarcasmo e ironia (ainda não consegui entender muito bem a diferença entre os dois) também é útil nessas situações. Aliás, se você é extrovertido, desenvolver seu lado sarcástico é questão de sobrevivência.

“Estou com saudades”, escrevi um dia em um torpedo que enviei. “Ah é, é!?”, recebi de volta, uma típica resposta ambígua, que pode ter dois significados: ou o receptor não estava sentindo o mesmo, ou estava fazendo doce e queria ouvir mais (ah, podia ser uma implicância também). Não pensei duas vezes e rebati: “Não, é mentira!”

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